a suspeita. 1

estava certo que a mulher se sentia atraída pelo amigo. ficou inquieto. chegou ela pra conversar e perguntar. ela desconversava. dizia: você é louco, meu bem. de onde você tira essa idéia. mas ele viu no jantar de quinta feira, o jeito que ela se embaraçava pra falar com ele, e de como suas mão esfragava uma na outra. e na hora de servir o jantar, ela apertava as pernas usando as pontas dos dedos, num gesto de lascivia consigo mesmo. eles sairam da festa, ela com um sorriso gigante na cara, ele amoado, como raiva, inseguro. sabia dos encantos do amigo, da expressividade, do jeito firme de conversar e chamar pra si naturalmente a atenção. Joaquim estava assustado como há muito tempo não ficava. foi então que surgiu uma coisa na sua cabeça. será que marina está dendo um caso? e se aquilo que ele percebeu foi apenas nuances de uma relação já estabelecida que ela não consegue mais negar. seu coração foi a mil. de manha, ligou para o escritório e disse que não iria trababalhar. passou a manhã pesquisando na internet um investigador, precisava ter certeza, senão iria enlouquecer. pelo menos se for, eu já desencano, pelo menos sei a verdade. pensou mexendo a boca. pegou o carro e rumou ao cento da cidade. entrou num prédio antigo na esquina do largo paissandu com a ramos de azevedo. o predio era descuidado e tinha a aparência de coisa abandonada. como não havia elevador subiu os cinco andares. o coração batia forte, estava fora de forma. na porta da esquerda, no número 55. tocou a capanhia e saiu um sujeito magro, de óculos, com um cheiro insuportável de cigarro.

- boa tarde, liguei hoje de manhã

- ah, entra. qual seu nome mesmo?

- joaquim.

- senta, quer uma bebida?

-qual tem.

-cachaça.

- não, quero não.

- então vou tomar um drink.

o homenzinho foi até a prateleira, pegou a garrafa de 51 e quase encheu o copo americando, virou de uma golada só, deu umas tosses estranha. se refez e sentou á mesa, de frente a joaquim, que dava dó de tão desconcertado que festava.

- então.

-acho que minha mulher está tendo um caso.

- antes, é bom falar algumas coisas. se você suspeita é porque tem algo no ar. no mínimo ela não gosta mais de você. e mexer nisso pode saber coisas que não está pronto.

-posso tomar uma cachaça?

- claro. só tenho um copo, vou passar uma água no banheiro e de já volto.

O estômago de joaquim que já estava revirado, deu um aperto como se um vômito quisesse vir a fora.

-toma! e relaxa, é uma boa cachaça, vinda de minas, sem dúvida de onde vem as melhores cachaças. exportam para o

mundo todo. o senhor sabia...

-desculpe, é, não sei o nome do senhor.

-e Juca. Jacara Marques.

-então, não vim aqui pra falar de cachaça, tenho um problema mais sério.

- claro,claro. eu só queria espareicer um pouco o clima.

- não precisa.

-então...mais de noventa e cinco por cento dos homens que me procuram, suas desconfianças está certas. as esposas tem mesmo casinho, ou tórridas paixões a beira de seus narizes.

- 95?

- sim, é muito né?

-muito.

- a maior parte dos homens são trouxas, não enxerga um palmo alem do umbigo.

-o senhor é bem extravagante senhor marques.

-não, gosto de abrir um pouco do olho do cliente, porque pode virm muito mais coisas. e não quero levar ninguem para o mundo da locura.

- sei.

-então pode desistir agora. as vezes é apenas um casinho, coisinha que passa. mulher perde o desencanto muito cedo. e logo descobre que paixões desesperadoras morre quando descobre a artificialidade da relação. e isso nenhum sujeito consegue esconder durante mais que alguns meses.

- eu quero saber. mesmo que seja algo sem importância.

- então tá. não vou mais demovê-lo de sua idéia. a partir de agora, sai o homem de compaixao e entra o homem profissional. tudo bem?

-foi isso que vim procurar aqui. um profissional.

-então me fale um pouco de vocês. o grupo que frequenta, no quê trabalham, nível cultural, intelectual, gostos, tempo de casados. quero que me fale da personalidade dela, se trabalha, ou fica o tempo todo em casa sonhando. se a relação de vocês estão ruim, se já foi boa algum dia. se você sente que ela o ama. quero saber de tudo.

-não vim aqui para expor minha vida assim; quero saber apenas se ela tem algum encontro fortuito por ai.

-eu não trabalho assim. quero saber da vida de vocês...

- acho que preciso pensar nisso..

-então pense. se quiser volte a manhã e vem preparado.

...

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 12/04/2014
Código do texto: T4766153
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