A LENDA DA ROSA BRANCA

A LENDA DA ROSA BRANCA

Jorge Linhaça

Houve um tempo, e ainda é, quando o desamor tomou conta da humanidade.

A cobiça, a inveja e ambição, trigêmeas univitelinas, grassaram por entre todas as nações e geraram a fome, a guerra e miséria, suas filhas primogênitas.

Os homens entregavam-se aos seus desejos e vontades, caminhando, sem perceber, para um abismo sem fim. As searas queimadas e abandonadas compunham um triste cenário e já quase não havia quem delas se ocupasse com amor. As grandes plantações mecanizadas afastavam cada vez mais o homem da presença de Deus.

O deus da vez era o dinheiro, o homem passou a valer pelo que tinha e não por aquilo que era. Os mais abastados evitavam contato com os menos afortunados, tratando-os como gado subserviente, úteis apenas para gerar a sua riqueza enquanto que estes, se tornavam cada vez mais pobres e sem esperanças. As multidões solitárias caminhavam pela terra sem rumo e sem destino, vivendo apenas para sucumbir aos vícios de uma sociedade deteriorada pelas vãs concupiscências da carne.

Compre! Tenha! Finja! Minta! Eram as palavras de ordem que ecoavam na mente de quase todos os seres.

"Comei, bebei e diverti-vos, pois amanhã morreremos e deste mundo nada se leva" passou a ser a religião de muitos.

E assim os homens daquele tempo ocupavam-se de satisfazer suas vontades, abrindo covas para os seus semelhantes, soterrando sonhos e esperanças, na ilusão de que isso poderia, de alguma forma, satisfazê-los.

Mas, como todo ser humano, quanto mais tinham, mais desejavam ter e acumular.

No entanto, em algum lugar há muito esquecido, havia um humilde jardineiro que entre cardos e espinhos, em um solo ressequido, teimava me fazer vingar uma mirrada roseira. Dia após dia lutava contra as ervas daninhas que cresciam rapidamente em seu jardim. Revolvia o solo e regava-o com seu suor e suas lágrimas, num trabalho anônimo e despercebido.

Passaram-se os dias, semanas, meses e anos; A roseira sofria com o ataque de formigas, da geada e com a fraqueza do solo. Mas o jardineiro não desistia. Suas mãos calejadas e manchadas de revolver a terra tinham a aspereza própria do trabalho duro e constante.

Um dia a roseira começou a vicejar, seus poucos galhos ressequidos começaram a ganhar pequenas e verdes folhas.

O jardineiro alegrou-se e continuou a sua lida, agora com a esperança a renascer em seu âmago.

O mundo à sua volta era cada vez mais sombrio, quase que ninguém mais se preocupava em cultivar o belo, a artificialidade substituía o que de verdadeiro havia.

Mas eis que milagres acontecem, pois nada resiste à força do amor.

Deu frutos a paciência do jardineiro/lavrador, pois, no alto da roseira surgiu o botão de uma delicada flor. O jardineiro aumentou seu zelo, redobrou os cuidados com sua roseira e agora a regava com as lágrimas de sua alegria, vendo brotar a sua utopia que foi cultivada no meio da dor. A rosa se abriu, um dia afinal, alva como a neve, e era tão forte o seu perfume que se espalhou pela vizinhança atraindo pra lá primeiro as crianças que traziam ainda em si, a inocência e a esperança.

A notícia logo se espalhou, e a rosa cada vez mais perfumada, pelo jardineiro, tanto tempo cultivada, era para muitos um divino sinal.

O jardineiro, avesso à fama, apenas murmurava para quem o quisesse ouvir:

- A rosa que vês, cresceu em virtude do cuidado que tive por ela. Vede aqui minhas calejadas mãos! Mas as rosas podem ser, por todos, cultivadas, desde que haja amor no coração.

Outros ouviram e creram nas palavras do jardineiro e cada qual foi cuidar do seu jardim. Pequenas roseiras foram cultivadas, e o povo mais alegre se tornou. Aos poucos as rosas enfeitavam estradas, foram pela terra aos poucos espalhadas e o mundo outrora sombrio, outra vez se perfumou.

E aquela rosa branca, única e especial, foi a primeira e até hoje é lembrada e, por muitos, honrada. Foi batizada com nome de PAZ.

Como está o teu jardim hoje?