MARIANA E EDUARDO

Uma manada de elefantes cruzou a sala e se escondeu no banheiro. Mariana e Eduardo, que assistiam a um DVD, ficaram boquiabertos. O que teria acontecido? Àquela hora os paquidermes deveriam estar na praça, refestelados ao sol.

Foram até à janela e viram que o exército tomava a praça. Os blindados luziam; e soldados, mascando chicletes, atiravam nos pombos vermelhos que sobrevoavam as árvores.

- Cê viu, Má?

- Tô vendo, Du.

De repente, um bando de pardais entra pela janela e, voando diretamente para o banheiro, silencia seus urros de pavor.

Drong, o gato da casa, lambendo o focinho, em êxtase – nunca vira tantos ratos! - corre até à porta do banheiro, e começa a arranhá-la. Vem, lá de dentro, sussurros de medo, - e isso encoraja o bichano faminto que força a porta escorada por um elefante trêmulo e suando frio.

- Drong, vá comer sua ração, gato malandro!

- Que foi, Du?

- Drong...

- Deixa ele. Vem ver uma coisa!

Lá embaixo, na praça, uma multidão se reunia e catava os pombos vermelhos mortos, caídos na calçada. Os milicos, agora, se divertiam cortando ao meio, com suas baionetas reluzentes, os mais afoitos que subiam nos tanques para pegar os malditos pombos vermelhos.

- Má, a coisa tá má! Hehehehe...

- Engraçadinho!

Um beija-flor chega à janela. Seu peito está palpitante; o coração está acelerado. Busca, também, refúgio.

- O que você acha?

- Esconder no banheiro?!

Antes que se decidissem, doze ou treze zebras, entram em tropel pela porta e vão direto pro banheiro. Ouve-se um murmúrio de desaprovação... Drong não está por perto, e elas entram.

Drong, que a contragosto comia um pouco de ração, achou estranho os ratos listrados. Mas, também, nunca vira ratos de trombas, ou ratos voadores. Aliás, Drong nunca vira rato algum na vida.

- Má, a confusão lá embaixo acabou. A praça está vazia.

Du foi até à porta do banheiro, abrindo-a. Pondo-se de lado falou:

- Ai, bicharada, a barra tá limpa, todo mundo pra rua!

Aliviados, os animais saem em desabalada carreira. Uns saem pela janela e se esborracham no asfalto. Outros rolam pela escada, ao errarem o passo.

Drong, que bestamente se posicionou na frente do “cavalo louco”, teve suas vísceras espalhadas pela escadaria e seu couro achatado pronto para um tamborim.

- Cadê o beija-flor, Má?

- Táqui, protegidinho, na minha mão! – e Mariana abre a mão.

- Morreu como um passarinho, esmagado! Má, como tu és má!

- Pááára!...