O muro

Quando criança, em minha casa, em volta dela não havia nada; tinha um muro que separava eu do mundo.

Nunca tive muito contato com as coisas de fora, lá fora era muito perigoso. Quando ia para o quintal do fundo, que podia ver o céu – mais nada além disso. Ouvia barulhos do lado de fora, aproximava-me da parede, mas não conseguia ver, somente ouvir. Diversos barulhos. Ficava imaginando o que seria. A princípio parecia o gado correndo pelo pasto, mas um gado diferente, escandaloso que nuca se afastava de casa. Só parava na hora do almoço e a noite; mas no dia seguinte continuava. Durou um bom tempo. Com o decorrer do tempo o gado foi embora. Agora parece vulcões, sempre explodindo; mas fazia do mesmo jeito do gado, parava na hora do almoço e à noite. Acredito que deve ser cansativo fazer essas coisas o dia inteiro. Enquanto os vulcões se aquietavam, surgia um novo personagem que ainda não consigo definir. Estranho. Era um som que parecia com a voz humana; em alguns momentos eu entendia, outros não. Esqueci de comentar, plantaram uma arvore do lado de casa, fazia uma sombra imensa. Adorava ela. Mas essas vozes eu não entendia. O que será isso? Pensava comigo se era a natureza falando consigo mesma. Mas vai saber, sou só um menino. Ao mesmo tempo em que ouvia essas vozes, ouvia também o barulho de trovoes. Mas o engraçado é que era de dia e não tinha nuvens negras no céu, fazia muita poeira, minha renite me atacava direto. Depois de todos esses fenômenos, os barulhos se prolongaram a noite, não era sempre. Do meu quarto ouvia uns barulhos indefinidos, mas eram poucos. E a cada dia foi aumentando e minha vida passando. Quando alcancei uma certa idade, minha mãe deixou eu sair para rua, foi quando eu comecei a entender tudo o que eu ouvia; por que eu só conhecia o muro nada mais.

Dionísio
Enviado por Dionísio em 07/05/2007
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