A casa do meu vazio

Sempre pensei que fosse alguém, completo. Mas vejo que não é assim...

Desde adolescente tive sonhos, esperanças, vontades e que quando crescer iria entender melhor as coisas. Conforme fui crescendo percebi que não era assim. Quanto mais crescia menos entendia. Quando pensava que sabia, nada sabia. As pessoas me chamavam de louco, por querer entender as coisas que não era muito normal questionar; mas não me importava; o que adianta o homem ganha o mundo e perder a sua alma? Agora homem, percebo como sou vazio; a imensidão do nada que está dentro de mim.

Depois de uma semana estressante, cansado de ver pessoas. Resolvi andar entre a natureza para relaxar. Atrás de casa existe um grande campo, segui caminho para esse lugar, encontrando um caminho, somente um caminho, nada mais. Em ação, caminhando tranquilamente, observando a natureza, ouvindo o som da liberdade. Encontrei uma casa, toda acabada, pichada, somente o bagaço – detalhe, no meio do nada. Ignorei-a segui em frente. Passei por outros lugares, como chácaras, rios, pontes, gados. Escurecendo, cheguei a pista; novamente ao urbanismo. Aproveitei para tomar água num posto e descansar um pouco. Aproveitando para refletir tudo que passei, fumando um cigarro. Voltei, pelo mesmo caminho. Porque se fosse seguir pela pista iria demora muito; não custava nada voltar por ali, e aproveitaria a lua cheia para iluminar o caminho. No caminho conseguia ver a minha sombra. O barulho da mata era mais intenso. Passando perto da casa estranha, parei em frente a ela. Ela estava diferente, estava deformada, sombria e triste. Quando passei não era tão grande, agora era imensa. Fiquei a observar, convidava-me a entrar. Era uma voz agradável que me chamava. Hesitei. Entrei na casa. Dentro, olhava para todos os lados, esperando o pior, com a ajuda da lua conseguia enxergar. Não era estranho aquele lugar, mas nunca havia entrado. No primeiro cômodo, que era a sala, não havia nada, as paredes mudavam de forma a cada minuto. Ficava em diagonal, reta, oval, cruzada. De frente para ela me pergunta o que aquilo significava. Não entendia. Olhando para o lado vi que tinha mais cômodo. Avançando, acredito que entrei no corredor. A parede mostrava algumas faces, indefinidas, mas não estranhas. Elas diziam algo, não conseguia entender. Não sentia medo daquele lugar; me incomodava. Fui para outro cômodo, era o quarto. Um quarto triste, infeliz. Era muito grande, paredes limpas e choronas. Tocou-me por dentro, também sentia a sua tristeza. A alegria que estava naquele lugar havia sumido há muito tempo. Estava abandonado, só havia permanecido as lembranças, e as paredes sabiam muito bem, mas não revelavam. Não suportando mais tudo aquilo, sai em direção de outro cômodo. Outro quarto. Ao entrar, o desespero me dominava, comecei a gritar. Não via nada, somente sentia. Não agüentei ficar naquele quarto, sai dele; no corredor, sentado. Fitei do corredor o quarto, por que não consegui ficar dentro dele. Vi que nesse quarto não havia nada, nenhuma expressão, vazio. Tive flashes de minha vida e descobri que havia entrado na essência de meu vazio.

Dionísio
Enviado por Dionísio em 07/05/2007
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