O Crime do Lago

(J.C King)
 
Um começo misterioso…
Um final surreal…

 
 
     Não sei se naquele instante eu observava maravilhado as ondas do mar se quebrando nos rochedos ou se me lembrava de tempos passados, quando uma sombra me cobriu. Levantei os olhos e um careca baixo me fitava:

     - Tenho ordem de prendê-lo como envolvido no crime do lago- Ele disse,ríspido e sério. Não sorria e nem expressava reação facial alguma. Seu rosto era duro como uma estatua de mármore.

     - Que lago? Que crime?- Indaguei ainda surpreso. Não estava entendendo nada do que estava acontecendo ali. Estava me sentindo um ´´extraterrestre`` em um ´´mundo extraterrestre``.

     - Venha comigo que na delegacia tudo será esclarecido- Ele disse, com seu rosto de estatua de mármore.

     Diante do tom autoritário com que o careca baixo me falava, resolvi segui-lo sem questionamentos. Sentei no banco de trás do veículo, um velho cadilac aos cacos, enquanto o homenzinho de estatura mediana e calvo colocou suas mãos no volante e acelerou. Atravessamos uma longa rua deserta, cruzamos uma pracinha onde crianças brincavam e idosos jogavam tempo fora e por fim paramos num prédio com as paredes descascadas e de aspecto de casa de terror.

     O careca baixo me fez descer do carro e depois entramos na casa velha chamada de delegacia. Quando menos esperava, fui empurrado para dentro de uma salinha pequena, abafada e escura onde o delegado de plantão me recebeu com tom teatral:

     - Enfim! Demorou mas caiu nas garras da lei. Achou que fosse escapar da justiça seu facínora. Confesse logo, é a única coisa inteligente que você tem a fazer.

     - Confessar o quê?- Perguntei indignado com o rumo que o interrogatório estava tomando.

     A princípio achei graça em tudo aquilo. Pensei que estava sendo vítima de uma brincadeira de mau gosto. Depois, diante da insistência do delegado em querer saber a verdade, comecei a suar frio. Eu nada sabia do crime do lago. Nem tão pouco tinha ouvido falar do caso. É bem possível que alguém, parecido comigo, tivesse cometido o crime pelo qual eu estava sendo acusado. Há tanta gente parecida no mundo. O próprio delegado, que me interrogava, tinha qualquer coisa de semelhante com o careca baixo que me deu voz de prisão.

     O verdadeiro culpado talvez se parecesse comigo. Não encontrava outra explicação para toda essa loucura que estava acontecendo na minha vida. De súbito fui despertado pelo careca baixo, que me disse:
     - Venha comigo.

     Me levantei e segui como uma ´´criança obediente ``o homenzinho de estatura mediana e calvo, que me fechou numa sala tão baixa que tive que me curvar para não bater no teto. Justamente nome momento em que me curvei, me deparei com um corpo molhado em cima de uma pedra de mármore. Recuei um pouco e fiz um grande esforço para não gritar.

    O morto parecia que me acusava com os seus olhos de ´´peixe morto``desfalecido, com os seus olhos que vinham de um outro mundo. Tive a impressão de que estava sendo vítima de uma alucinação. Os olhos do morto parece que se dilatavam cada vez mais.

    Me dominei o quanto pude e me debrucei sobre o morto para examinar melhor a sua feição e não pude conter um grito de espanto: o morto era eu. Era eu que estava em cima da pedra de mármore frio e molhado.


                                           FIM
 


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Enviado por Contadores de Histórias em 14/05/2014
Reeditado em 26/05/2014
Código do texto: T4806575
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