Solilóquios de um Imundo Profundo.

Estou aqui me recordando novamente do Bar General, do Magrão, aquele "cambito microcéfalo' (o Renalixo o conhecia bem), sobrevivente da Rua Apeninos no ano de 1998...

Naquele tempo as coisas eram infinitas. Não havia morte para quem tinha 21 anos! Haviam cervejas, poemas e cigarros avulsos dos camelôs da São Bento, poemas de Rimbaud, Baudelaire, Drummond, Pessoa e prostíbulos diversos..

Ah, meu Deus, um dia volto pra lá! Nem que seja voando em forma de alma penada! Um dia volto pra lá...

Uma das coisas que me recordo daquele bar e que não me foge da memória, é que, além do banheiro, onde se poetizava, lá também não se sentava... As pessoas, normalmente homens e mulheres bêbados e desiludidos, ficavam recostados no balcão, resmungando do dia, dos homens e do Mundo... , num solilóquio profundo e imundo...

Fume, coma e beba tudo que conseguir, dizia Marcoleta, o Despachante... e nunca concluía o poema, o porque...

(Marcoleta, o Despachante, foi encontrado morto em 2004, num quarto de motel na Mooca, com o pinto duro, a lingua verde e com cara sorridente... Ninguém nunca soube ao certo sobre a vida e a morte de Marcoleta... Assim como ninguém nunca soube ao certo sobre nada...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 14/05/2014
Reeditado em 14/05/2014
Código do texto: T4806631
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