O velho louco que removeu as montanhas

O velho louco que removeu as montanhas

Perto das montanhas Palo-Alto e Grande-Rocha, vivia um velho de noventa anos que todo mundo achava louco. Ele tinha uma idéia fixa, a ideia de remover as montanhas da frente de sua aldeia e levá-las para outro lugar. Ninguem acreditou que ele fosse fazer isso.

Certa noite todos foram dormir tranqüilos. No dia seguinte, o velho louco acordou bem cedo e disse novamente que iria remover as duas montanhas, para abrir um caminho até o leste, onde os agricultores iam vender seus produtos no mercado.

Ele começou a encher um cesto com pedras e, pouco depois, passou perto de sua casa com a carga nas costas.

Sua mulher perguntou:

-Onde vai jogar a montanha?

-No mar Bohai.

Logo seu filho e seus três netos foram trabalhar com ele. Juntos quebravam as pedras, tiravam a terra, enchiam com ela os cestos e iam jogá-las no mar Bohai. Até o filho de sete anos da viúva, que nascera depois da morte do vizinho, veio ajudá-los. Eles trabalhavam de domingo a domingo, de inverno a inverno, voltando para casa apenas uma vez por ano.

Mesmo algumas pessoas que não acreditavam que fosse possível tirar as montanhas do lugar se dispuseram a ajudar o velho louco. Primeiro sua mulher e seus filhos. Depois os vizinhos, e depois os vizinhos dos seus vizinhos. Mais tarde acharam, sim, que a montanha tinha de dar passagem até o leste.

Um sábio que vivia na curva do rio tentou dissuadi-lo daquela loucura.

-Deixa de ser doido! Um homem velho e fraco como você, incapaz de carregar um saco de areia, vai remover duas montanhas para mudá-las de lugar?

O velho deu um suspiro. Olhou para a montanha, e olhou para o mar Bohai, lá longe, como se calculasse quanto tempo faltava para terminar o trabalho, e disse:

-Se eu morrer, eu deixo o meu filho continuando o meu trabalho. E também o filho do meu filho, e o filho do meu neto, e o filho do filho do meu neto. Já as montanhas, não crescem nem aumentam de tamanho. Por isso eu vou continuar o meu trabalho.

O sábio da curva do rio não soube o que responder.

Boris Becker
Enviado por Boris Becker em 16/05/2014
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