Copos de vidro...

A menina-porcelana perambulava pela própria vida. Atirava pedrinhas inocentes no lago..e observava tudo em volta. Tudo tão aparentecmente monótono..calmo... bucólico... A mulher-rocha buscava explicações pro epicentro do terremoto. Parecia inconformada, triste... Incontida...

Observava tudo. A dança inerte de dias despedaçados, tal qual se mostram... na sua ingenuidade e indecência de serem tão cotidianamente repetidos. A menina-rima riu, ao pensar no poeta. E em todos os poetas, músicos, desenhistas, artistas ou vagabundos que já lhe atravessaram os versos. E sentiu uma saudade imensa das dores de amor, que já lhe atormentaram tanto... e que hoje não faziam nada, senão cócegas, diante de cada pedra jogada e atrelada ao sofrimento dos últimos dias.

Era uma moça bela.. de cabelos indefinidos..rosto incomum, idéias audaciosas. Era uma moça única: unhas cerradas, pra não arranhar o mundo. Olhos abertos, pra enxergar os traços - as minúncias, cada pedaço que ousasse querer passar desapercebido. A menina-poeta chorava e, com suas lágrimas, que deveriam lavar a alma, vieram pensamentos; mais vorazes ainda.

A menina sentiu medo. Medo da morte proeminente, medo do frio de descobrir-se só pra sempre, medo de ser indignas de tantos dons que tinha.

Um copo escorregou-lhe dos dedos, e micropedaços espa[ti]lharam-se por toda parte. O copo virou um pó incontido, nada mais poderia ser colado. Nada mesmo... sem cicatrizes.

Temeu estar enganada sobre si mesma. Afinal, quem eu mesma sou?!?

Copos de vidro, cacos... E foi meditar sobre isso...