Início do Lusco fusco no Vale Mucuri

O sol estava se despedindo com os seus últimos raios cor de abóboras no cume dos montes.

Montanhas imponentes do Vale do Mucuri.

Na soleira da porta da sala, bem de frente do terreiro vazio, seu Firmino unhava uma violinha desbotada pelo tempo e pelo uso nas rezas do Espírito Santo.

Enquanto dedilhava canções do passado,

Ricardinho, seu neto caçula, olhava firme os dedos do vovô dedilhando as cordas da antiga viola.

Cabeça raspada, calça curta, pés empoeirados, o menino mantinha seu olhar fixo no vovô que trazia do fundo d’alma as canções que aprendeu com seus ancestrais.

Dona Maria, uma senhora de coração mole, com pouco conhecimento das coisas que estavam fora do mundo dela, encosta na soleira da janela, ao lado da porta que estava servindo de palco para o espetáculo de seu Firmino. Com um lenço na cabeça, pele enrugada pelos anos vividos no Vale, serenamente começa a cantar a modinha dedilhada pelo seu velho amor.

“As panela tá empoeirada

E o fugão na mema rima.

Uma de boca pa baxo

E ota de bunda pa cima”.

A noite vai chegando e Maria de Lourdes, uma moça solteirona, filha de seu Firmino e dona Maria, começa a ascender às lamparinas abastecidas a querosene.

A apresentação acaba todos de adentram na casa.

As janelas e portas são fechadas com tramelas e todos vão para o jantar.

Arroz, feijão, mandioca frita e água da boa.

Uma mesa simples com toalha de plástico com desenhos de frutas e legumes.

Pratos esmaltados, canecas esmaltadas, toalheiro na parede e estante para os utensílios da cozinha.

Chão batido, rebocado com fezes bovinas e tabatinga na parede de pau-a-pique.

Na taipa do fogão de lenha, um banquinho de madeira e uma gatinha preguiçosa que sempre estava por ali.

Depois do jantar, um pouquinho de moda no rádio e cama.

Pois já é tarde!

Precisam dormir.

Pois o dia seguinte está prometendo!

Minas é assim!

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 09/06/2014
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