Lua Minguante

Era nosso primeiro encontro depois do ocorrido. Finalmente poderíamos nos encontrar sem nada temer.

O psicopata do ex-marido dela estava sempre atrás dela. Já haviam se passado três meses desde o divórcio e ele continuava a nos atrapalhar. Sempre que nos encontrávamos ele aparecia e fazia um escândalo.

Agora sabíamos que ele não nos atrapalharia mais. Uma vez que tentamos nos encontrar no centro da cidade, ele apareceu novamente. Ela já estava cansada daquela perseguição sem fim, e não teve pena de dizer para ele: "Você sempre atrapalhou minha vida. Meus negócios. Você não é uma pessoa normal.

Você é um anormal. Doente mental. -- Então sussurrou em seu ouvido -- Eu nunca amei você."

Aquilo foi demais para ele. Acho que ele não agüentou ouvir a verdade. Saiu correndo pela rua gritando.

Depois disso ela não agüentou e também chorou. Aquilo era demais até para ela. Estava cansada. Por isso, a noite acabou ali.

Pela manhã encontrei uma amiga em comum e ela me contou:

"Que horror! A coitadinha me ligou de noite chorando.

O canalha tinha invadido a casa dela, quebrado tudo, e por final ficou ali na sala, pendurado por uma corda no lustre, olhando para o além." Imagino-a entrando em casa e vendo aquela figura encarando-a. Deve ter sido um choque. Um choque muito grande, pois ficamos um bom tempo sem nos falar. Até esta tarde, quando me pediu para encontrá-la aqui.

Encontrei-a na sacada. Ela estava na outra ponta da sacada, e no momento que eu entrei ela se virou, como se percebesse minha presença. Pude ver aqueles olhos novamente.

Negros, profundos, me encarando. Pude ver o sentimento através de seus olhos. A lua é apenas uma linha no céu. Minguando.

Então ela veio correndo em minha direção, sorrindo. A alegria que eu senti não me deixou fazer nada. Só pude estender os braços e esperar por ela, retribuindo-lhe o sorriso.

Mas o tempo parecia não passar, e ela parecia não chegar nunca. Enfim, quando estava prestes a segurá-la em meus braços, ela despencou em cima de mim. Assustei-me no início não sabendo se ela apenas tropeçou, mas logo constatei que estava desacordada. Pior ainda, não estava respirando.

O pânico me alcançou.

Não!

Não é possível. Quando estavamos livres. Quando nada poderia nos impedir, isso acontece. Afinal, acho que não poderia acontecer nunca. O acaso conspirou contra nós. Ela morreu em meus braços.