Consciência

Quando todos já haviam ido dormir, o garoto foi para a sala e zelosamente abriu a caixinha. De lá, tirou uma máscara de teatro, a da tristeza; uma fantasia de bobo do corte; uma corda para forca; uma camisa de força; um maço de cigarros pela metade; um molho de chaves quebradas; um pequeno espelho rachado; uma garrafa de vodca no final; um violão; um pijama em duas peças; um RG falso; um pedaço de pano branco com um círculo vermelho no meio e um punhal sujo de sangue na lâmina.

- Eu não sabia que tinha tanta coisa aqui. - Murmurou ele. Acho que algumas coisas nós não conseguimos esquecer.

Subitamente, por uma distração, ele deixou a caixinha cair. Ela bateu no chão e se rachou em várias tiras de madeira.

"Como somos frágeis" - Pensa ele. Apenas em uma fração de segundo, pois no segundo seguinte, ele cai no chão como se tivesse desmaiado.

- Venha ver meu filho. Outro jovem morreu por uma bala perdida. Está aqui no jornal. Por isso eu falo pra você tomar cuidado na rua. É muito perigoso e nunca se sabe quando alguma coisa vai acontecer. Aqui diz que ele nem agüentou a ambulância chegar. Morreu antes. Que barbaridade.

- Calma mãe. Isso acontece todo dia. Não é novidade. Se não fosse ele, seria outra pessoa.

- Não é novidade, mas garanto que pra mãe dele foi uma grande novidade. Agente pensa que isso nunca acontecerá conosco. Mas acontece. E quando acontece somos pegos de surpresa e não sabemos o que fazer. Eu fico todo dia esperando que alguém ligue falando que algo de ruim aconteceu com você. É uma agonia. Você não sabe o que é ser mãe. Mas quando tiver seus filhos saberá como é. Espero.

- Anda mãe. Esquece isso e vamos ver o filme.