O reencontro

Havia uma claridade muito forte, não que lhe machucasse os olhos, mas ofuscava a visão do todo ao seu redor. Como num sonho, algo fora da realidade visual normal, provocava uma curiosidade quase ingênua.

Foi andando devagar como quem anda só por andar, não como quem tem onde ir, queria entender o que se passava mas não tinha pressa para nada. Na verdade, era como se estivesse acordando, mas sem os incômodos matutinos, sentia-se jovem e forte como nunca, e poderia dançar por horas.

Era nisto que pensava enquanto andava quando começou a enxergar melhor o campo à sua frente, como se a sua vista se acostumasse. A vegetação rasteira seguia longe, até onde começava uma floresta magnífica. Ao longe montanhas, a Lua, o Sol e a Aurora Boreal, faziam parte daquela paisagem surreal.

Ainda no campo, quando concentrou sua visão nos arredores mais próximos, observou o que parecia ser uma pessoa sentada num grande tapete, bem distante. Como era a primeira pessoa que via naquele sonho, foi em direção à ela.

Enquanto aproximava-se, a distância passava a permitir supor que se tratasse de uma mulher, com os seus víveres a aguardar alguém para um piquenique. Olhou bem em volta, pois não é comum que alguém faça um piquenique só, mas ninguém acompanhava a moça, nem um companheiro, nem crianças.

Ao aproximar-se bem a ponto de reconhecer as feições da mulher, um tsunami de emoções passou a lhe varrer os pensamentos, começou a lembrar-se de quem era ele mesmo, pois nem tinha lembrado disto. Mas agora que a via, ele soube de tudo, num estalo.

Para traçar um paralelo, seria como se um garoto de faculdade reencontrasse o amor de sua vida depois de décadas de distância forçada. Ela estava distraída, ajeitando as contas nos seus cabelos e não percebeu que ele se aproximava.

Ele olhava para ela e percebeu que nunca a havia visto tão linda, suas roupas brilhavam coloridas, seu cabelo esvoaçava ao sabor da leve brisa, sua pele emitia a sensação de quem chega ao lar intacto e belo depois de enfrentado uma guerra daquelas. Ela era mais linda que As Três Panteras juntas, era meiga, gentil e sua voz tão suave e agradável como se tivesse que combinar com sua beleza.

Quando ela o viu, seu sorriso se abriu magnífico, o amor era tão denso enquanto saía dos olhos dela que nem o tempo conseguia passar entre eles, a cena desenvolveu-se em câmera lenta, era como se todas as lembranças vividas em outras épocas fossem trocadas por telepatia, naquela aproximação tão demorada. E como os olhos falaram.

E quando abraçaram-se, ela disse "Você foi ótimo com as meninas depois que eu tive de vir embora, eu sei que você não queria deixá-las, mas hoje as meninas são mulheres adultas, unidas, elas ficarão bem. A saudade vai doer, mas nunca vai acabar o amor que nós deixamos com elas... não há nada a temer, vou te explicar umas coisas", e continuou "Aqui o tempo não ameaça ninguém, ele está sempre sob o nosso controle, não há nada que se possa perder e o amor, o amor ainda existe."

Ricardo Selva
Enviado por Ricardo Selva em 11/08/2014
Reeditado em 23/08/2015
Código do texto: T4918832
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