Remédios que curam

Não muito longe de Paricatuba, nas proximidades do rio morava o senhor Lourenço, com sua família numa casa simples, com assoalhos e paredes de madeiras de açaí, sob um telhado de palha. E de sua janela, que dava na saída de um igarapé a desembocar no rio Paricatuba, vez por outra passava o senhor Sarjes, compadre do senhor Lourenço, que sempre ia a cidade fazer compras.

E num belo dia de chuva fina, as folhas das mangueiras a beira do rio respingavam qualquer coisa com a brisa fria que se insurgia e deixava a molecada preguiçosa na rede olhando o rio, que parecia embalar de um lado para o outro, o olho de Boto, quando surgia a galope, sob a canoa, aquele velho enrugado, conhecido como senhor Sarjes e ai o compadre Lourenço se atava a prosear.

- Ei senhor Sarjes, para onde o senhor vai?

- Ei Lourenço vou à cidade.

- Como que vai o senhor compadre?

- Estou bem meu velho e o senhor?

- Não estou muito bem, ando com umas dores fortes de reumatismo.

-Pois compadre, não é que estive pensando no senhor.

- Como assim Lourenço.

- É que tenho uma pílulas que são batatas, para dores de reumatismo.

-Ah! Seu Lourenço o senhor pode me dá umas?

- Claro compadre, pois quando o senhor vier da cidade passe aqui que lhe arrumo algumas delas.

Assim, enquanto o senhor Sarjes foi à cidade, Lourenço pegou algumas pescadinhas que tinha em casa e tirou delas os olhos. Quando a chuva passou e o sol levantou colocou-os no girau para pegar sol. Depois de bem sequinho, ele colocou uns dez olhos de pescada num vidrinho de penicilina e esperou o senhor Sarjes passar de volta da cidade.

Lá pela noitinha o senhor Sarjes entrava pelo furo do igarapé, indo em direção a sua casa quanto o senhor Lourenço apareceu na janela.

- Ei compadre Sarjes venha até aqui.

A Lua esgueirava-se pelas folhas das arvores e como a mergulhar na seara do rio refletia a face da beleza da noite, quando o senhor Sarjes aportou o trapiche lateral da casa do senhor Lourenço, que prontamente lhe serviu, com o vidro de Penicilina, com as tão milagrosas pílulas.

Agradecido senhor Sarjes, pegou o medicamento, enfiou no bolso e seguiu rio adentro da floresta, cantando e remando ao som dos sapos e de um lindo luar.

No outro dia o senhor Lourenço ia descendo a escada para pegar a sua montaria, quando o senhor Sarjes passara de novo à cidade.

- Ei Lourenço!... Disse o senhor Sarjes.

- Amanheci ótimo, pois aquelas pílulas, ou remedinho pai d égua. Bastou tomar um só e amanheci sem dor nenhuma.

Dona Eulália, mulher de Lourenço, ouvindo e sabendo da situação depois que o velho sumiu na curva do rio disse:

- Mas Lourenço tu não te emendas. Já pensou quando ele descobrir o que são aquelas pílulas?...

- Tu não tens medo homem?

- Ora mulher, tu não vês, que a fé é que cura. E desatou em risos.