A luz no escuro

Ainda era sexta feira a tarde assentado a soleira da porta que dava para o quintal, Betoca consertava sua caçamba feita de lata de óleo Jaçanã, quando chegaram seus primos,Ginoca com a sua amassadeira, de lata de leite ninho e Vum, com o seu ônibus de lata de óleo Salada para discutirem o novo modelo de carro que pudessem transitar na noite.

Vum o mais velho falava de tirar do rádio da avó Wilse de Betoca a engrenagem da pilha ou de uma lanterna que o tio Bena tinha para embutir no ônibus a luz, Ginoca ria-se a valer com as contestações do Betoca, pois dizia ele que se aquilo procedesse quem iria apanhar era ele.

Já no quintal que não era muito grande a discussão acabou terminando com o resultado artesanal. Iriam testar como uma vela ficaria iluminando dentro do ônibus.

Daí para frente passaram pela passagem secreta, do quintal do Betoca, que dava para o imenso quintal de dona Julita. Seguiram para uma tapera que ficava ao fundo guardando pedaços de lajotas, vidros e outras quinquilharias.Coisas que os adultos colocavam de lado,mas que as crianças adoravam.E lá o tempo passavam sob os versos da infância, como numa viagem ao tempo, eles enfrentavam bruxas, monstros, Curupiras, Matinta Pereira,Lobisomem, Bandidos e Piratas.

Quando o sol ia se pondo nas sombras das árvores frondosas dona Wilse começava a chamar os meninos e o seu neto, que quase sempre não respondiam. A perceber que já tinham que irem embora, parece que a brincadeira ficava mais animada e ai é que faziam estripulias... Subiam nas árvores, subiam nos telhados das casas, passavam pelas cercas e corricavam nos outros quintais.

Enquanto os pássaros e as cigarras alertavam que já eram seis horas os meninos corriam e gritavam; enquanto a fabrica, onde a dona Graça, mãe de Betoca trabalhava anunciava através da cirene o fim de mais uma jornada, ai é que o fogo pegava.

Seis e meia, a estrela apontava no céu meio que indeciso, entre o azul claro e o azul escuro, pela passagem secreta eles voltavam completamente imundos.

Ginoca e Vum depois de acertarem para logo mais estrearem as suas idéias nos seus carrinhos, correram para sua casa, que ficava mais lá na frente. Enquanto Betoca, de mansinho pegava o sabonete phebo e corria até o único bico dá água da vila para se banhar antes que a sua Mãe o visse se não o passeio da noite estava comprometido.

Banhado, procurou por sua avó, que primeiro lhe deu uma bronca por não ter atendido ao seu chamado, mas depois lhe vestiu.

Após o jantar, os meninos estavam ansiosos para o passeio na noite. E enquanto dona Graça ia assistir à novela na casa da Tia Dina, os meninos pegavam seus carros de latas e enfileirados, com a vela dentro dos ônibus saiam felizes como se tivesses descoberto um novo mundo na escuridão da noite.