quando... enquanto

A prosa é como uma espécie de sopa variada, desde o caldo de galinha aguado à sopa da pedra onde tudo entra e o ideal do esfomeado é conseguir ver a colher ficar de pé!

Um Jesus Cristo de olhos fechados olha para dentro de si, de pés pregados na cruz mas sentado. Tem nas mãos uma cana de pesca segurando uma alminha com asas, o seu ar é seráfico...

Hoje o conto começa por aqui, no inicio do dia, sem pressa, é Domingo. É como se me confessa-se no papel, tentando lembrar qualquer coisa esquecida.

Gosto de deitar flocos de cereais dentro do leite frio, é bom ter algum pecado que possa ser lavado pela absolvição. Gestual e verbal; lavado, levado...

Quando matámos a fome e não temos nada a fazer, é neste ponto da história que o conto fica. Fecho de novo a luz, acaricio-lhe os cabelos e vou adormecer.

Quando... Sem pressa, enquanto as palavras andarem por aqui fico a fazer companhia à respiração dos nossos corpos e faço de narrador sem dor nem nada a narrar. A não ser contemplar a imagem do Cristo Redentor de horas de pesca no lazer desse prazer, enquanto uma alminha salva um pecador?

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 11/09/2005
Reeditado em 11/09/2005
Código do texto: T49452