MARIA E JOSÉ

José chegou em casa, sentou-se à mesa, e pôs-se a pensar.

Andara o dia inteiro à procura de emprego. Foi tudo em vão. Numa firma pediam estudos. E José não tinha. Em outra, experiência. José não tinha. E ainda teve aquela que pediu a José, referências. Referências?! Que diabo era isso? José não sabia, e saira da sala, dizendo que ia buscar.

José estava cansado de tanto perambular pelas empresas, e agora, com as mãos apoiando o queixo, esfregava os cotovelos no tampo na mesa, num movimento quase que inconsciente para aliviar a tensão.

Maria chegou ao portão e parou antes de abri-lo. Dali viu José acabrunhado, pela fresta entreaberta da porta. Maria sentiu no coração uma fisgada. Não deviam ter saído de onde vieram. As coisas aqui na cidade grande eram tão complicadas! Mas José insistira tanto...que iam ganhar muito dinheiro, que iam melhorar de vida, que iriam ter a sua própria casinha, que isso, que aquilo... e Maria se empolgara... e os sonhos de José eram os dela... e... e... Maria começa a chorar e, tentando não fazer barulho, puxa devagar o trinco que, indiferente aos sentimentos dela, range.

José sai da letargia em que se encontrava e olha. Vê Maria de costas para ele, tentando fechar o portão sem fazer ruído. O que diria a ela? Sente-se amargurado, mas não poderia mentir à sua querida Maria. Amanhã tentaria de novo, por que não? Levantando-se, José vai ao encontro dela que ainda não acabara de fechar o portão barulhento, e se abraçam.

- Maria, eu...

- Já sei, não precisa dizer nada...

- É que...

- A minha patroa tá precisando de um jardineiro...

- Sério?!

- Então, você podia ir lá!

- Mas é claro!

- Então...!

- Ai-jesus.... não me olhe desse jeito!

E foi uma noite tranqüila – tranqüila?! – a caminho de um novo dia!