Domingo de inverno

A menina acordou tarde. Melhor assim, poderia ir direto para um feijãozinho com arroz que sobrara da véspera. Pão, havia apenas um naco; o leite também estava no fim. Efetuou uma pesquisa na carteira: somente uns trocados. Foi nesse momento que a pequena acordou:

- Mãe, me leva na praça?

Aquele primeiro pedido podia ser satisfeito, isso alegrou-a. Era domingo, o sol forçava as janelas, estava um frio bastante seco.

- Vamos lá, disse, abraçando-a. Começou a vesti-la para sair.

- A dedera mãe. Quero cuca.

Providenciou a mamadeira, procurou despistar o resto. A cuca trazida de fora já havia terminado. Poderiam voltar qualquer dia na mãe, quando viesse o pagamento. Apenas um problema: ainda faltavam uns dias...

Apressou-a:

- Vamos andar no balanço, filha, vou te empurrar alto, alto... (a mão subiu no ar)

- Mãe, me dá cuca antes.

- Nós vamos conseguir depois, vamos!

A menina começou a chorar. Empacou. Ela, ali, impotente. O dinheiro comprava tudo. Ela ganhava pouco, era professora secundária. De que adiantava ter feito faculdade? Lembrou-se do pai: estuda para advogada, minha filha. Ela, ali, penando. O diploma na gaveta. Vontade de rasgá-lo em mil pedacinhos, de partir para outra, de...

Imóvel no meio da peça, ausentava-se. A menina estranhou, foi acalmando, até que a agarrou pela saia:

- Vamos, mãe?

E, vendo-a sem ação, falou mais forte:

-Mãe, vamos!