O deus que habita todos nós

Namastê...

"Curvo-me perante a ti."

"A minha essência saúda a tua essência".

"O deus que habita em mim saúda o deus que habita em você."

"Eu honro o lugar em você no qual todo o universo habita. Eu honro o lugar em você que é de amor, de verdade, de luz e de paz. Quando você se encontra neste lugar dentro de você e eu me encontro neste lugar dentro de mim, somos um."

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Tahir havia emigrado fazia poucos meses. Ainda se habituava aos costumes locais, muito diferentes dos de sua terra natal. Mas mantinha sua religiosidade intacta, embora às vezes isso lhe custasse muitos olhares tortos.

Tinha o hábito de curvar-se para todos os seus interlocutores com as palmas das mãos unidas em prece: era a manifestação da divindade oculta nele, que saudava com reverência a divindade oculta dentro de seu semelhante. Mas os seus semelhantes nem sempre se julgavam de fato semelhantes a ele, pois sua pele parda, seu luzidio cabelo preto e seus igualmente negros olhos eram muito diferentes da alvura da pele, cabelo e olhos dos habitantes daquele país que o acolhera. O que vez por outra causava a estes estranheza e muita desconfiança.

E foi assim que um dia, ao abordar um passante para pedir uma informação numa rua pouco iluminada, não teve tempo nem sequer de fazer sua saudação habitual. O seu semelhante, um jovem loiro como o trigo, drogado, armado e portando em uma sacola o produto de um recente assalto, disparou-lhe um tiro à queima-roupa. Tahir caiu assim, de olhos abertos, sobre as mãos que esboçavam o gesto inacabado.

O deus que habitava o jovem, consternado, saudou com reverência a parte da divindade que deixava Tahir e o mundo material, pedindo perdão pela atitude daquele espírito pouco evoluído que sequer sabia da sua essência divina. Até que adquirisse consciência, teriam um quase infinito caminho a percorrer.

Naquele momento a rua, já tão pouco iluminada, escureceu-se ainda mais. Assim como a cidade, o país, o mundo.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo "Namastê"

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