Histórias que o Padre Candinho contava...

Aos sábados, Pe. Candinho reunia as crianças, do movimento "Cruzada Eucarística", depois da missa e, com seu carinho e dom, nos contava lindas histórias. Lembro-me que chorei , quando ele nos contou a história da velha casula. Muitos detalhes ficaram perdidos no tempo, mas lembro-me bem daquela passagem que fala do padre que sempre celebrava a missa vestido de uma velha e manchada casula. Seus paroquianos ficavam implicados, pois havia na igreja outras casulas, mas aquela era a preferida dele. Surgiam boatos, mas ninguém tinha a coragem de

fazer indagações a respeito dessa preferência.Quando chegou a época do natal, a comunidade paroquial decidiu dar-lhe uma linda casula para que ele usasse na missa da meia-noite. As bordadeiras capricharam e a nova veste ficou realmente muito linda!

Chega o grande dia. Todos aguardavam ansiosos a hora da missa. A igreja estava repleta. Foi dado o sinal para o início da cerimônia e entra a procissão comandada pela equipe de liturgia e acompanhada pela equipe de celebração e os coroinhas. E logo após aparece o celebrante com a casula velha! A turma não se conteve com tamanha decepção e, no final da missa, dele se aproximaram a costureira, as bordadeiras e mais um grupo do Apostolado da Oração. Reclamaram da falta de delicadeza, de gratidão, de agradecimento por parte dele em não usar o presente tão lindo que elas fizeram com tanto carinho.

E aquele padre, com a voz embargada, pela primeira vez, conta-lhes o motivo de seu grande amor por uma peça manchada e velha:

Era grande a perseguição à igreja , quando se ordenou naquela distante cidade que fazia parte da Rússia comunista. As missas eram celebradas com as portas fechadas. Não podiam cantar nem rezar em voz alta. Era tudo muito discreto para cumprir as determinações das autoridades do governo. Ele feliz, corajoso, celebrava a santa missa, na cidadezinha onde morava, sempre acompanhado de sua piedosa mãezinha.

Um dia, estava ele, já quase no final da cerimônia, quando entram a cavalo alguns soldados que se dirigiram ao altar com o alvo já determinado. Mas sua mãe foi mais rápida que eles e abraçou seu filho padre. Com o golpe que recebeu, morreu ali mesmo, nos braços do filho. A casula, toda manchada de sangue, foi testemunha desse ato heróico de sua mãe. E dela ele nunca se separou.

Terminou a narrativa com a voz já embargada pela emoção e as lágrimas já molhavam o seu rosto.

A turma em silêncio dali se retirou.

E foi com grande respeito que aquela comunidade passou a participar das cerimônias religiosas, e a casula velha e manchada teve sempre seu lugar de honra no cenário paroquial.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 21/05/2007
Reeditado em 22/05/2007
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