o circo do palhaço sem futuro

Era uma menina, mas nem gostava tanto de bonecas.

Tinha no ar um tom meloso, dramático, melancólico.

Não costumava ser tão percebida, e de repente ela cresceu...

Seu josé, quando voltava de uma de suas viajens, sentado na sala reparou uma mulher passar de calcinha e sutiã pela casa.

Ele mal sabia quem era ela, mas reconheceu naqueles olhos a sua filha,

aquela a quem ele trazia bonecas, enquanto ela só precisava de um

beijo e um pouco de amor...

E se sentiu um palhaço num circo desgraçado, onde todo aquele espetáculo que um dia teve graça, ficou só no passado e agora ele, só, triste e palhaço, continua se achando há vinte anos atrás sentado naquele tamborete no meio de um palco, sem platéia, sem público mas não vê que a palhaçada um dia passa, e que o circo também muda de

espetáculo e de endereço, que o público cresce e a graça toda se perde.

E ele ali, que durante toda a sua vida, durante todos os vinte longos anos, foi o único que não teve mundo e nem teve tempo, e agora tinha todo o tempo do mundo pra se perder em solidão.

Que agora, quase desconhecido, apenas um velho de mala nas mãos, passava despercebido, e tinha no ar um tom meloso, dramático e melancólico.

O palhaço jamais voltaria no tempo e consertaria os erros de um

espetáculo de vinte anos atrás...

Aline S Silva
Enviado por Aline S Silva em 22/05/2007
Código do texto: T497440
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