ISPERA SÔ!

ISPERA Sô!

Nascer e morrer são os dois únicos acontecimentos garantidos de que se tem noticia, porque as pessoas nascem e morrem e ponto final, sem espaço para discussões . Quando uma criança nasce é só alegria e quando alguém morre é só tristeza, mas como em tudo na vida existem as exceções e um enterro pode perder a solenidade e acontecer coisas inesperadas e divertidas

Seu Chico de Santa era uma pessoa adorável, bem educado, alegre e grande contador de “causos”, era a alegria da cidade de Serra Verde; seu bom humor era reconhecido por todos e ele era o primeiro a ser convidado para todos os acontecimentos da região, porque podia ser um casamento, batizado ou outra comemoração, ele sempre tinha um “causo” novo para a ocasião.

A familia de Seu Chico era grande e ele cuidava de todos com a renda de seu pequeno sitio, onde ele plantava legumes, verduras e criava alguns porcos e galinhas, tinha também a vaca Formosa que garantia o leite das crianças, mas com oito filhos para alimentar pouco sobrava para ser vendido, e o dinheiro era sempre escasso e as crianças cresciam rápido e precisavam estudar.

Em Belo horizonte, vivia um primo e amigo de Seu Chico que era rico e tinha uma grande chácara nos arredores da capital e sabendo das dificuldades do parente, fez a seguinte proposta: Chico vai com a familia morar em minha chácara, você cuida das coisas por lá e pagarei um bom salário e você aumenta as plantações, os porcos, galinhas e o gado e lá tem escolas perto para seus filhos.

Seu Chico com muito pesar, vendeu seu pequeno sitio e se mudou com a familia para a capital e os moradores de Serra Verde perderam o animador de suas festas, mas a amizade continuou na troca de cartas e na visita que ele e a familia faziam uma vez por ano a terra natal; durante aquelas visitas a cidade se alegrava e Seu Chico de Santa aproveitava para contar seus alegres “causos”.

O tempo passou, os filhos de Seu Chico cresceram, estudaram, se formaram doutores e Seu Chico envelheceu alegremente, sempre bom de prosa, bom amigo e com seu eterno bom humor, mas a velhice trás o enfraquecimento fisico e finalmente as doenças e inevitavelmente a morte e com ele não foi diferente,mas forte como um touro ele demorou a se entregar e depois de meses de sofrimento ele faleceu.

Consternada, a população de Serra Verde decidiu enviar alguns amigos para o velório e enterro do querido amigo e assim foi feito, mas por não conhecer bem Belo Horizonte chegaram com atraso ao velório e pouco depois das tristes despedidas, o cortejo fúnebre se formou se seguiu para o cemitério, fechando a fila de carros estavam os quatro carros de Serra Verde seguindo os outros.

Os cidadãos de Serra Verde não sabiam onde ficava o cemitério e como o cortejo seguia devagar eles foram seguindo, mas o motorista do carro fúnebre resolveu acelerar e em pouco tempo o cortejo sumiu de vista e os rapazes do interior ficara perdidos, mas foram rodando e só Deus sabe como conseguiram chegar ao cemitério, corpo já estava enterrado e o carro fúnebre já ia saindo.

Seu Zico que comandava os amigos de Serra Verde, pulou na frente, puxou o motorista para fora e o agarrou pela paletó aos trancos e gritava: porque ocê disparou na corrida e largou nois pra tráis, eu gritei espera sô, mas ocê num ligou, perdemo o interro do amigo, mas vou cobrá o prejuiso e encheu a cara do motorista de tapas, as pessoas presentes socorreram o assustado motorista.

Ao chegar de volta a Serra Verde, Seu Zico ainda muito bravo contava o acontecido aos amigos, amaldiçoando o surrado motorista do carro fúnebre e se alguém dizia: Seu Zico e se ocê fosse preso lá na capitar? ele respondia: e é.., mais num fui e se fosse o Seu Chico tinha que tá vivo pra contá esse “causo” e isso era verdade, porque Seu Chico ia adorar contar com muitos floreios o acontecido.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}

Nepomuceno Minas Gerais Brasil

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 17/10/2014
Código do texto: T5002974
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