INSIGHT

Foi a segunda vez que experimentei uma emoção muito forte ao contemplar a lua de madrugada.

A primeira faz mais de dez anos. Com insônia, levantei-me da rede, abri a porta e saí para o terraço. Estava tudo mergulhado em profundo silêncio e escuridão.

De repente, observo a lua iluminando a noite. A beleza do espetáculo deixa-me extasiado e comovido, a ponto de ficar hipnotizado, sem ação de me movimentar por alguns minutos. A contemplação me atingiu profundamente. Senti medo, solidão e enlouqueci, por alguns segundos. Entrei para dentro de casa, aterrorizado com aquela esplêndida cena cósmica. Depois, a emoção foi tão profunda que escrevi um poema intitulado “Lua”

O tempo passou inexoravelmente. Entre esse insight e o outro, já contemplei a lua, mas cedo da noite e em companhia de outras pessoas, sem, porém, experimentar uma descida tão funda ao âmago do meu ser. Nessas vezes, tive somente sensações prazerosas, entretanto não me aproximei às zonas inexploradas do inconsciente.

Há dois dias, acordei-me às três horas da madrugada. Li e andei dentro de casa. Talvez ansioso para que o dia amanhecesse, saí para olhar o tempo do terraço. Eis que me defronto com a lua em todo o seu esplendor, exibindo os seus mistérios siderais.

Contemplo a lua de frente, altaneira no horizonte. Procuro apenas observá-la, sem julgar nada. Um turbilhão de pensamentos e emoções me atordoa. Aquele contato com a lua foi indescritível. Como traduzir aquilo¿ É uma comunicação intraduzível.

Sei que não suportei o choque. A descarga de energia cósmica que recebi foi intensa demais. Desapontado, fechei-me em casa, psicologicamente abalado. Sentei-me tremendo, levanto-me para aplacar a tempestade interior. Ando de um lado para o outro. Inesperadamente, um pássaro cai dentro de casa. Espanto-me e o medo dobra. Pergunto como aquele passarinho entrou em casa, já com a cabeça mais serena. Deve ter sido pelas frestas do telhado. Não sei onde o pássaro se escondeu. Um pouco aliviado, tenho a resposta: “deve ser a pomba da paz”. E senti vontade de rir.

Sinto um leve sono e procuro a rede. O dia está clareando. Faço esforço para não dormir. Ouço ruídos fortes na cozinha. Imagino que deva ser o gatinho nas panelas. O chano estava tentando capturar o passarinho, que estava em cima do guarda-louça. Aproximei-me para tentar salvar o pássaro das garras do gato. O passarinho voa para o quarto, por onde deve ter entrado em casa.

Eu estava liberto, momentaneamente, do medo do desconhecido. E o pássaro recuperou a sua liberdade de voar no espaço sem qualquer medo.

samuel filho
Enviado por samuel filho em 13/11/2014
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