540-DANIEL NA COVA DOS LEÕES- Conto Bíblico

9º. Conto da Série Daniel na Babilônia

Avançado na idade, Daniel, profeta dos judeus durante o cativeiro da Babilônia, sábio conselheiro de Nabucodonosor, viu, com apreensão, a queda do rei, vencido por Ciro, cujos exércitos vindo da Pérsia, como um furacão, dominaram a Mesopotâmia.

O novo rei, entretanto, não só conservou Babilônia, como passou a habitar em seus palácios. Permitiu que as leis continuassem em vigor e deixou que os babilônios mantivessem a adoração de seus deuses.

A organização administrativa do reino teve continuidade, Dario dividiu as províncias em cento e vinte sátrapas. Nomeou Daniel, que era o governador das províncias ao tempo de Nabucodonosor, para governador geral das sátrapas, mantendo-se assim sua elevada posição e prestigio.

Ciro era um rei curioso e gostava de conversar com Daniel, Principalmente sobre a questão religiosa.

— Os judeus são muito teimosos. Não se vergam a nenhum rei nem se adaptam aos costumes de nenhum povo. — Disse Ciro a Daniel.

— Sim, tendes razão. Adoramos Javé, Deus Vivo e Imortal. Enquanto mantermos nossa fé continuaremos como povo eleito e nossa terra prometida sempre estará lá, á nossa espera.

Devido a esta fidelidade, Daniel já se havia indisposto com os sacerdotes de diversas seitas. Com os sacerdotes de Baal, cujo embuste ficara claro quando Daniel revelara como eles consumiam as oferendas colocadas no altar. Em seguida, com a morte do dragão, em circunstâncias inexplicáveis e até cômica, pois o dragão explodira devido a um estratagema de Daniel, os sacerdotes passaram a temer Daniel.

Se os altos sacerdotes e ministros já tinham ciúme e inveja de Daniel, a nomeação foi um fato que mais acirrou aqueles sentimentos. Mais ainda quando Daniel, em função de sua experiência nos anos em que ajudara Nabucodonosor na direção do reino, tornou-se mais importante e seu trabalho, reconhecido pelo rei.

Os antigos governadores, alojados do poder, reunidos com os sacerdotes, mancomunavam entre si a fim de diminuir ou anular o poder de Daniel.

— Ele não se ajoelha perante nosso deus, não observa as prescrições de Baal, não paga tributo nem faz oferendas. É estrangeiro poderoso e merece a confiança do rei.

Em conluio, os inimigos de Daniel foram ao novo rei da Babilônia e pediram a elaboração de uma lei que seria uma armadilha para fazer Daniel cair em desgraça perante Dario.

— Vamos fazer com que Daniel caia em desgraça perante o rei e seja lançado na Cova dos Leões. — combinaram os invejosos.

A Cova dos Leões! Lugar terrível, onde sete leões eram mantidos e para onde eram enviados os piores criminosos, os inimigos do rei, os detratores da religião oficial, sujeitos à pena de morte. O lugar apropriado para o cativeiro dos leões: defronte ao mar, numa pequena área circundada por altos e íngremes penhascos. O único acesso por terra era uma caverna, mantida sempre fechada por uma grande pedra. Os leões eram parcamente alimentados, mantidos sempre à beira da inanição, a fim de que os condenados tivessem uma terrível morte: serem dilacerados pelos leões famintos.

Nada mais temível para os babilônios e para todos os habitantes da grande cidade, capital do poderoso império que se estendia pelo crescente fértil e além.

Os sacerdotes dirigiram-se ao rei Dario com uma simples solicitação. Disseram:

— Salve Rei Dario, vida eterna te seja concedida! Todos os príncipes do teu reino, os magistrados e os sátrapas, os senadores e os juizes são de parecer que se promulgue um edito imperial ordenando que todo aquele que por um tempo de trinta dias pedir qualquer coisa a algum deus, que não fores tu, Rei de toda a Babilônia e de todo o mundo, seja lançado na Cova dos Leões.

O rei, mesmo sabendo das inúmeras divindades que eram adoradas por todo o reino, assinou o decreto. E, como costume, mandou apregoa-lo por todos os cantos do reino, para que ninguém ousasse desobedecer, alegando ignorância.

Daniel, entretanto, mantinha-se fiel a Javé, Deus Único, Vivo e Imortal. Três vezes por dia, abria as janelas do seu local de oração, em três horas diferentes, se punha de joelhos e, com a face voltada na direção de Jerusalém, fazia suas orações.

Os sacerdotes de Baal e outros deuses vigiaram Daniel e constataram que ele continuava orando e pedindo a Javé. A denúncia veio depressa e o rei, constrangido, teve que manter o édito que ele assinara e mandara divulgar no reino. Mandou que trouxessem Daniel à sua presença e disse-lhe:

— Meu coração está triste porque desobedeceste à lei e tenho de condená-lo. Porém, tenho certeza de que o teu deus, que incessantemente adoras, te livrará da terrível morte na cova dos leões.

Grande foi o séqüito que acompanhou o rei e Daniel, preso por cadeias, até a entrada da caverna que acessava a cova dos leões. Daniel entrou altaneiro, a grande pedra foi rolada e o rei colocou o seu selo, para que não houvesse possibilidade de fuga.

Enquanto Daniel caminhou altaneiro para a arena onde os leões permaneciam, o rei voltou ao palácio. Naquele dia, entristecido pelos eventos, não se serviu dos manjares postos à mesa e recolheu-se aos seus aposentos antes que o sol se escondesse atrás das dunas do deserto.

A multidão, entretanto, subiu à borda da cova, e do alto do penhasco, esperavam pela consumação da pena de morte imposta a Daniel.

Inutilmente permaneceram os curiosos a tarde e a noite: Daniel surgiu da gruta, e foi cercado pelos leões, que, ao invés de o atacarem, deitaram-se aos seus pés, em sinal de total submissão. Irritado, o populacho, incentivado pelos sacerdotes, pôs-se a gritar e a jogar pedras e paus sobre os animais e Daniel, que se afastaram para a orla do mar, onde permaneceram em convivência calma e tranqüila.

No dia seguinte, sem ter dormido direito, Dario dirigiu-se, com sua corte, à boca da caverna, para quebrar o selo e verificar que nenhuma fraude fora cometida. No meio do caminho, entretanto, foi cercado pelos sacerdotes, que queriam impedir sua chegada ao local.

— Os leões se recusam a atacar o condenado. Deve-se esperar mais algum tempo. — Disseram ao rei.

Dario subiu até o penhasco, de onde viu Daniel sentado em uma pedra, cercado pelos leões que, mansos e imóveis pareciam prestar-lhe uma reverencia.

Cheio de jubilo, determinou aos seus servidores imediatos:

— Abram a caverna imediatamente. Daniel está perdoado.

E ao abraçar seu grande amigo, chorando de alegria, disse:

— Daniel, servo de Javé, o Deus Vivo e Imortal, a quem adoras sem cessar, como pode livrar-se da ferocidade dos leões e torná-los mansos e afáveis?

Daniel respondeu ao rei:

— Grande Rei, vida eterna lhe seja proporcionada. Ouve: o meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões, acalmou a sua ferocidade e eles não me fizeram mal nenhum. Isto porque não cometi delito algum, nem diante de Javé, nem diante de ti, Rei Magnânimo.

Dario se encheu de felicidade por ver seu ministro são e salvo, sem sequer um arranhão.

De volta ao palácio, Dario mandou vir à sua presença os que haviam acusado Daniel.

— Fostes mais realistas que o rei. O ardil só serviu para me obrigar a condenar meu amigo e ministro. Aos guardas, ordenou:

— Ajuntem-se-lhes as mulheres e filhos, e todos sejam lançados à Cova dos Leões.

Então, o rei, chamando os escribas, cancelou a ordem anterior e mandou que proclamassem a todos os súditos, em toda a extensão do reino, isto é, pelo mundo todo, o seu novo édito, que dizia:

“A Paz se multiplique entro vós, meus súditos de todos os quadrantes. Fica doravante decretado por mim que em todo meu reino e império se respeite e tema do Deus de Daniel, porque Ele é o Deus Vivo e Eterno, por todos os séculos. Ele é o libertador e o salvador, que faz prodígios e maravilhas no céu e por sobre toda a terra, ele é que livrou Daniel da Cova dos Leões”.

ANTÔNIO GOBBO

Belo Horizonte, 19 de março de 2009

Conto # 540 da Série Milistórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 21/11/2014
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