O homem do VIOLÃO. Um conto musical

O homem do violão. Um conto musical.

Dizem por aí que no reino da MELODIA , existe um ser que encanta e enche de brilho cada vez que o som do seu violão, suave ou estarrecedor é executado e que ninguém resiste aos efeitos entrelaçados em tríades ou tétrades encontrados em sua canção. A HARMONIA acompanhada com acordes consonantes e dissonantes fascina o universo do mundo musical de uma forma que bem longe se percebe o efeito da musicalidade que ele produz. A verdade, é que ninguém sabe, a não ser um simples e grande amigo, explicar ao certo o que o torna tão singular e especial e porque que tudo o que ele toca, sendo violão ou não, produz efeito de transformação. Afirma-se também que quando ele manuseia seu violão, mesmo que de forma simples, o seu som ultrapassa as barreiras do imaginável e repercute até nos quatro cantos da terra e penetra até o profundo das almas mais angustiadas e ninguém resiste a sua canção, nem mesmo o coração mais duro e cruel. O que todos esperavam é que próximo dali, no reino da infelicidade onde pairava o som das trevas negras e profundas, o homem do violão pudesse entrar com seu som divinal e mudar até mesmo os corações dos seres sofredores e solitários, porque lá, predominava a melancolia dos tons menores desencadeando tristeza profunda assimétrica e distorcida. Os sofrimentos causados pela dor, doença, ódio, angústia, tristeza, fome , miséria e o pecado, rondeava todos os corpos que se entregavam sem saber a essa opressão ali presente. Não sabiam também que existia uma liberdade tão grandiosa à espera de quem a buscasse. Para isto, bastava pedi-la, batendo na porta do Senhor da canção majestosa e assim, o “Homem do Violão” estava disposto a ser se possível aquela ponte de mediação. Ele mesmo não sabia ao certo que tinha poder pra isso, mas acredite, ele possuía sim, e era um poder sobrenatural e mesmo que nem todos acreditassem, o efeito da boa música de qualidade que ele trazia, era libertador.

Conta-se que certo dia, sendo convidado, para uma apresentação em praça pública , numa noite meio escura, ele apareceu com um case preto e rústico pendurado à sua costa. Elegantemente o abriu e tirou seu instrumento musical predileto. Afirmavam, que tal como o dono, seu instrumento, um belo violão meio amarelado, reluzia como a luz da alvorada e de longe sentiam mesmo sem ainda ser manuseado algo como um som envolvente e contagiante e quando as cordas eram tocadas, puxadas, dedilhadas e arpejadas, algo incrivelmente acontecia, porque como diziam por lá, ninguém resistia ao som da sua canção.

Nesse dia, porém, ao posicionar-se no palco atrás de um simples microfone, num estalar de dedos, a primeira corda chamada MI arrebentou. Foi estridente demais o som provocado pelo estralo da corda chegando a doer os ouvidos dos que estavam ali presentes. Unanimemente todos pensaram: agora, seu som vai perder o vigor e a sua música, a essência da magnificência. Tamanha foi a surpresa de todos, pois ao segurar seu violão com suas fortes mãos e executar o primeiro acorde, um típico E9 (mi maior com nona) o som, saiu mágico, não se sabe como, mas todos as notas que o compõem "E,G#,B e F#", soaram de forma magnífica. E ao entoar de forma convicta as primeiras palavras da sua canção, ouve um silêncio total. Descia uma glória lá de cima, e o vento, da noite que trazia uma neblina densa, envolveu a todos por inteiro numa união sem igual, pois sua mensagem era que o Senhor da canção tinha um amor único e incondicional por cada filho seu e todos podiam se render à ELE.

Pelo que as boas línguas falantes disseram, isso, só pode ter sido obra do Senhor da Canção, pois foi sobrenaturalmente brilhante. Um milagre musical. Ao final de sua apresentação, a penumbra que pairava naquele lugar, dissipou totalmente e uma paz profunda se apossou em cada alma vivente que ali estava. Quando a luz de Deus irradiava nele, o homem do violão, sentiam e viam que existia algo diferente que o fazia ser um SER esplendoroso e cheio de vida. É como se uma áurea divina se firmasse em seu rosto tal como Moisés, mesmo que não tão cheio de esplendor, mas isso não o fazia nem um pouco menor que o profeta.

As pessoas se entregavam ao som que saia da sua boca e do seu violão como se fosse uma espécie de mágica, chamada de Espírito Santo. Embora não sendo puro completamente, pois a sua santidade estava em construção, agia com padrões éticos e morais de fé e vida, pois a melodia da canção de DEUS, estava nele. Mesmo não tendo a beleza da graça total em simetria, seu semblante contagiava porque um sorriso no seu olhar o tornavam um homem com brilho, iluminado. Via-se meiguice no seu rosto, um homem feito, um sonhador que com certeza, alcançará o mundo na sua totalidade. Seu coração instigava verdade e sinceridade que todo mundo deveria copiar, pelo menos assim era visto. Falar a verdade, viver a simplicidade, compartilhar a bondade, corrigir com mansidão e ser comprometido com o que fazia, o tornavam NOBRE.

O homem do violão não era um homem qualquer, pois quando ele tocava ninguém resistia ao encantamento da sua música, do seu som, dos seus ritmos, da sua harmonia, da sua voz. Isso só podia acontecer porque ele possuía algo muito especial que muitos outros homens/músicos não tinham. Esse era o segredo do seu grande sucesso. Ele possuía a alma e a essência de um verdadeiro músico que lhe foi dado como dom e talento diretamente pelo Senhor da Canção, logo no seu nascimento. A sua alma era composta de amor, força, fé, alegria, segurança e esperança. Não sabiam, porém onde ele morava, nem tão pouco o seu nome. Apenas o conheciam como o homem do violão. Dizem por aí que ele está dentro de todos aqueles que vivem a essência da música pura. Sendo assim, eu, você, poderemos ter uma parte dele e se o Senhor da canção está em nós, faremos tudo o que ele fez e ainda muito mais.

Raimundo Soares de Andrade

Rondonópolis, MT, 06/12/14

Tanto os que cantam como os que tocam diga: todas as minhas fontes estão em Deus. Salmos, 87-7