Medo da Chuva.
Chuvas de verão infiltram nas camadas desgastadas do antigo cinema, onde hoje abriga um botequim.
Os bêbados ali vão tapando os copos com receio da leptospirose, e piram com as goteiras como se fossem as lágrimas de um prédio antigo.
Cada qual em seu canto, entre um gole e outro, vão murmurando as coisas da vida...
Centenas, para não dizer milhares de pessoas deixam seus rastros no piso cinquentenário, e almas, as penadas, aprisionadas nas paredes, choram por não poderem beber um gole daquela cerveja gelada e conversar com aquela rapaziada.
As luzes de natal na praça central resistem bravamente à tempestade torrencial...
Sentado numa mesa de canto próxima ao banheiro, um velho senhor, sozinho, movimenta os lábios entre gole e outro, como se conversasse com a própria substância do ser...
Lá fora nenhum carro transita...
Papai Noel não veio naquela noite...
As crianças ficaram felizes!
Era o medo da chuva!
No final todos dormiram em paz...