Medo da Chuva.

Chuvas de verão infiltram nas camadas desgastadas do antigo cinema, onde hoje abriga um botequim.

Os bêbados ali vão tapando os copos com receio da leptospirose, e piram com as goteiras como se fossem as lágrimas de um prédio antigo.

Cada qual em seu canto, entre um gole e outro, vão murmurando as coisas da vida...

Centenas, para não dizer milhares de pessoas deixam seus rastros no piso cinquentenário, e almas, as penadas, aprisionadas nas paredes, choram por não poderem beber um gole daquela cerveja gelada e conversar com aquela rapaziada.

As luzes de natal na praça central resistem bravamente à tempestade torrencial...

Sentado numa mesa de canto próxima ao banheiro, um velho senhor, sozinho, movimenta os lábios entre gole e outro, como se conversasse com a própria substância do ser...

Lá fora nenhum carro transita...

Papai Noel não veio naquela noite...

As crianças ficaram felizes!

Era o medo da chuva!

No final todos dormiram em paz...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 13/12/2014
Reeditado em 13/12/2014
Código do texto: T5068354
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