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RESPOSTA FALANTE
 
 
 
Fico te olhando e a me interrogar. Quem parou? Quem parou? Parece que a pergunta é a mesma que me fazes: um eco da minha.
Durante tempo, nosso amor sem esperança foi nutrido pelas cartas. Eu te amava. Tu me amavas. Tudo certo. Ela morreria (que Deus nos perdoe), e nos casaríamos. Era disto que nos alimentávamos. Ah, a esperança! Foi trancada no fundo da caixa por Pandora. Agora, apenas restam tristezas, desencontros e interrogações.
Na última missiva, a notícia da morte dela. Rosa morta. Nós livres. Propunhas que déssemos um tempo. Os vizinhos, os parentes, sabe como é. Aceitei. E disse na correspondência da minha expectativa, de quanto rezaria para que o tempo, o tempo ingrato, fosse nosso amigo.
O que foi mesmo que aconteceu? Meu orgulho, teu descaso, ou o contrário? Nunca mais me escreveste. Não mais te escrevi. Fui chorando, pensando no abandono. Agora livre, me descartavas. E aonde foram as nossas juras de amor, os nossos planos, os filhos que teríamos? Aonde?
Foi o acaso - e nem acredito nele - que nos colocou frente a frente. Dois velhos. E a pergunta nos olhos. Quem parou? Ou nos teus somente vejo o meu reflexo? Quem sabe se tens uma resposta para a pergunta que não verbalizarei. Mesmo por que já não importa.
Até que ela vem correndo, inflexível, clara, sem qualquer dúvida, na forma de uma garotinha loira, saltitante, que para à nossa frente.
– Vovô, quem é esta senhora?   


   
MADAGLOR DE OLIVEIRA
Enviado por MADAGLOR DE OLIVEIRA em 16/12/2014
Código do texto: T5071871
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