600-A FAMÍLIA DE JECA TATU-

A biografia de Jeca Tatu. tipo imortal, criado por Monteiro Lobato, o escritor brasileiro de maior importância do século XX, parece terminar quando o matuto doente se curou e tornou-se grande fazendeiro. Dedicado aos inúmeros projetos de sua vida, Lobato não teve tempo de registrar os feitos dos descendentes de Jeca Tatu.

A história de Jeca Tatu continua.

Graças aos remédios recomendados pelo Doutor Lobato, e às medidas de higiene adotadas pelo Jeca, a vontade de trabalhar também nele se instalou, o que resultou numa prosperidade jamais vista na região e admirada por todos os vizinhos.

Sim, pois a prosperidade advinda da boa saúde resultou no casamento de Jeca com dona Rosalva de Souza, (tratada intimamente por Salvinha) mulher forte e trabalhadeira, boa de forno e fogão, e generosa matriz de numerosa prole.

Jeca, alfabetizado, se tornou leitor de almanaques e manuais de agricultura e pecuária, e gostava de mostrar a sabedoria aprendida das suas leituras. Dizia de sua mulher:

— Salvinha é o sal da minha vida, o tempero de nossa família. De que vale uma vida sem sal?

Nada menos que oito filhos tiveram Jeca e Salvinha: quatro homens e quatro mulheres.

As mulheres cresceram na fazenda e, bonitas como a mãe e dispostas como o pai, não tardaram a encontrar “bons partidos”, moços filhos de fazendeiros da vizinhança, com os quais se casaram. Desses casamentos surgiu uma grande descendência de Jequinhas que se espalha hoje por todo o interior paulista.

Quanto aos filhos homens, cada qual seguiu seu destino. Jeca Tatu foi um pai sábio, que deu aos filhos educação, cultura (até onde conseguiu manter os filhos na escola) e independência para agirem por si mesmos.

Assim, apenas um ficou na fazenda. Os outros três saíram cedo de casa, para tentar a própria sorte. Pois, como dizia o pai:

— A sorte existe, meus filhos, mas quando ela chega, tem que encontrar o sujeito trabalhando.

Os quatro filhos de Jeca Tatu:

Biriba – Saiu de casa ainda jovem, com 16 anos: iniciou a vida como tropeiro, e sua primeira aquisição foi uma éguinha pequena, mansa mas muito forte e resistente. Biriba (este era o nome da éguinha) passou a ser também o nome do dono. De tropeiro passou a dono de caminhãozinho Chevrolet Tigre, depois uma frota de caminhões e tornou-se grande empresário do ramo de transportes. Como tropeiro e caminhoneiro, conheceu o Brasil de norte a sul – Sabia de muitos causos e histórias, que gostava de contar aos amigos. De ano em ano visitava o pai, e nestas ocasiões toda a família se reúnia, e ele reunia o pessoal em roda de si, para contar causos e histórias que ouvia em suas andanças e viagens.

Jequinha – Permaneceu solteiro, mesmo sendo forte e bonitão. Estudioso, trabalhou como empregado do grande empório de secos e molhados de Totó Miranda. Começou como simples caixeiro, em pouco tempo passou a guarda-livros e gerente da loja. Esperto para negócios, juntou seu próprio dinheiro e um dia disse ao pai:

— Tou indo prá São Paulo, é lá que se fica rico.

— Meu filho, olha bem o que vai fazer. A cidade é muito grande, está cheia de malandros, trambiqueiro, gente esperta que só pensa em passar a perna nos outros.

Jequinha acolheu os conselhos do pai e com seu capital partiu para a grande cidade. Na primeira semana, apareceu-lhe um negócio imperdível. Procurando negócios para aplicar seu capital, ficou conhecendo um advogado, Dr. Adventura Furtado, que lhe falou, em tom de quem lhe passava um segreo

— Tenho um negócio em vista, que não posso arcar sozinho. Preciso de um

Sócio para completar o capital. Se o amigo quiser, podemos fazer sociedade...

Muitos negócios fez, e enriqueceu rapidamente.

Foi então, quando estava mergulhado em grandes negócios e negociatas, que uma oferta de negócios

Jequita – Cantador de modas caipiras fez com Jequitibá a primeira dupla de cantores caipiras do Brasil: Jequita e Jequitibá. Jequita, que sobreviveu à dupla, foi homenageado em 2010 (quando completou 80 anos de idade) em programa de cantores sertanejos na televisão.

Juca Beleza – O caçula, era elegante e bem apessoado (tal qual Jequinha), foi trabalhar no circo, tornou-se artista, trabalhou em filmes nos quais fazia a figura do próprio pai, aparentemente simplório mas, ao mesmo tempo, esperto nas situações importantes. Foi o que ficou mais famoso, graças aos cerca de vinte filmes nos quais trabalhou. Trocou o nome, ou melhor, assumiu um pseudônimo que o tornaria famoso, sendo ele ao mesmo tempo produtor e diretor de mais de vinte filmes de comédia caipira, tão ao gosto do publico brasileiro. .

As vidas destes eminentes cidadãos fundadores da grande dinastia de Jecas serão tratadas em outros tantos trabalhos biográficos nesta Série Milistórias. Aguardem.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 7 de abril de 2010

Conto # 600 da SÉRIE MILISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 26/12/2014
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