Sopa de pedra!...

"Tudo é preciso para aquele que foi,

por muito tempo, privado de tudo"

Friedrich Nietzsche

"Sopa de pedra!...

A vida passa tão rápido, repetia sempre, dona Severina, a seu filho Pedrinho. (o único que vingou, dos dez, que pariu...)!... Ainda bem, Mainha. Minha barriga não 'guenta' mais o ronco da fome. Dona Severina, magrinha, cabelos grisalhos, prendidos em um coque, se fazia de forte. Cortava lenha e cozinhava para Pedrinho, o que plantava na horta. (Algumas hortaliças)!... Tinham poucos vizinhos, e dona Severina, costumava fazer "sopa de pedra". A vizinha, mais perto, dona Maria, perguntou a dona Severina. - 'O que está fazendo para o almoço, comadre? Severina respondeu: "Sopa de pedra"!... A comadre Maria, trouxe de sua casa poucas folhas de repolho, guardado a sete chaves. Comentou com as outras vizinhas e amigas. A comadre, Severina, está fazendo, outra vez... "sopa de pedra", para ela e Pedrinho. As sergipanas, sabendo das dificuldades de Severina, e as vizinhas, foram levando o pouco do que tinham em casa. O panelão de "sopa de pedra", virou suculenta sopa, repleta de legumes. Severina e Pedrinho, comeram até engasgar, depois de tirarem a "pedra, da sopa"!...Ainda sobrou para os porcos... Severina, sabia fazer pão, como ninguém. Pão de milho, ovos, (de sua granja)!... e fermento, que trocava por suas hortaliças, quando ia à cidade, na venda do senhor Tomé. Quando o pão era pouco, dona Severina mastigava e tirava da boca, antes de engolir, para alimentar Pedrinho. O menino-sábio dizia: Não quero tudo Mainha, tirava de sua boca, um pedacinho de pão e devolvia a sua Mãe. Os olhares eram tristes, mas eram felizes, os dois juntos. Naquele calor escaldante da caatinga. Não era uma casa, propriamente dito, era um casebre. Sem energia elétrica. Dona Severiana, dormia em rede, sempre com um terço na mão, rezando e olhando, Pedrinho em seu colo. Chorava em silêncio, apenas derramando lágrimas. Parecia a imagem da Virgem, com Jesus morto em seu colo, feito a escultura de Michellangelo. Imenso quintal, mas tudo muito limpo. Pomar, repleto de laranjas e jabuticabas. Pedrinho vivia nas jabuticabeiras... A água, vinha da chuva, "sem tratamento"!... Passava um córrego, há léguas de distância, e o menino Pedrinho, passava o dia, fazendo longas caminhadas, para trazer água-potável, para casa. Nas horas vagas, Pedrinho, soltava "pipa", com os amiguinhos da vizinhança. Sorriam como todas crianças sorriem, olhando o céu. E quando chovia, coisa rara. As crianças ajoelhavam-se e agradeciam aos Céus!... E ao padrinho Padre Cícero. O pai, Senhor José havia morrido, há uns meses de sede, fome e tristeza, na labuta dos dias...(fulminante enfarte)!... Severina sofreu mais que a fome. A água, guardada em grandes baldes no quintal, quando chovia, colorida pelo azul do céu. E assim a vida continua. Enquanto, no Planalto Central, os "podres poderes", sorriem, da miséria alheia e jogando "comida sagrada", no lixo.

Tony Bahi@.

Tony Bahia
Enviado por Tony Bahia em 08/02/2015
Reeditado em 10/02/2015
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