(Semana do Meio Ambiente) 
                                  Guaipi

Guaipi é um indiozinho muito sapeca! Todos sabem quando ele está por perto... - faz tamanha barulheira com o tambor que ganhou do amiguinho da cidade, que ensurdece...

Bentinho é como se chama o amiguinho de Guaipi. Filho do Dr. Antonio Bento, que semanalmente, vai à aldeia, prestar voluntariamente, assistência médica aos seus moradores.

Como as visitas do Dr. Antonio Bento são aos sábados, Bentinho não perde a feliz oportunidade de acompanhá-lo, pois não precisa ir para o colégio nesse dia... - tinham estado ali muitas vezes, no decorrer dos dois últimos anos...

Às vezes, eles até mesmo dormem na aldeia, se as consultas tornam-se mais demoradas e estendem-se até o domingo... Tomam pousadas, na cabana do velho amigo e querido padre Jacinto, junto à simplória capelinha.

Depois de observá-los por já algum tempo... - sempre juntos e tão alegres - o padre Jacinto, avaliava que os garotos pareciam dois bons irmãos: são muito amigos!... – dizia ele - e conciliam muitas atividades com satisfação, embora suas realidades sejam bastante diferentes...

Guaipi freqüenta uma escolinha da aldeia e sempre pede para Bentinho ajudá-lo nas lições mais difíceis... Bentinho o faz com agrado! E Guaipi, por sua vez, lhe fala sobre a natureza exuberante e tão próxima dele!...  Bentinho afirma extasiado: é mesmo muito divertido poder brincar aprendendo, nesse sítio tão verdejante e encantador, que abriga a aldeia!

Como estavam comemorando a semana do meio ambiente, no seu colégio, Bentinho resolve contar para Guaipi, que naqueles dias, havia aprendido, com sua professora, que a Mata Atlântica já vem sendo devastada desde a época do Brasil - colônia, com a extração do pau-brasil, e que dessa madeira se retirava uma tinta vermelha, utilizada como corante de tecidos. Hoje - completa ele - esta tão frondosa árvore, só é encontrada em alguns jardins botânicos e está ameaçada de extinção... Conta também que se retirava da mata, madeira para a construção de navios, engenhos e cidades... E que a ocupação do homem na faixa litorânea, pela facilidade de transporte, na época do cultivo da cana-de–açúcar e do gado - por ter sido mal planejada - causou graves danos, ocorrendo o desperdício de recursos naturais... E enfatiza ainda que, mesmo com a mudança de culturas, da cana-de-açúcar para o café, o algodão e as frutas para serem comercializadas, fizeram com que a floresta fosse mais sacrificada, para abrigar os núcleos habitacionais, que de maneira desenfreada, utilizavam a sua madeira, que servia às olarias e usinas geradoras de energia... E toda essa devastação foi feita em nome do progresso - afirma Bentinho - restando da Mata Atlântica, só 5% da área original e que continua sendo ameaçada e invadida...

Após a sua exaltada e angustiante preleção, Bentinho percebeu que Guaipi, num silêncio aflitivo, só despregou-lhe os olhos marejados de lágrimas, quando ele terminou de falar... Emocionado, pois, enquanto relembrava suas aulas, sentira ainda mais a questão, chora junto com o indiozinho... - Suas fisionomias deixavam transparecer o quanto estavam tristes, decepcionados e muito preocupados com o desdém que ainda sofre o meio ambiente.

A tarde estava quente e, através das copadas e belas árvores, o sol insinuava-se ardente, com seus raios flamejantes, energizando o terreno, por onde medravam as espécies silvestres...  Guaipi enxuga disfarçadamente o rostinho e mostrando-se alegre, pega na mão de Bentinho e fala:



- Veja amiguinho, aqui ainda é um lugar abençoado!... Venha comigo correr, andar pela mata, que vou mostrá-la viçosa, muito bonita e como os animaizinhos e pássaros habitam contentes aqui!... Vou mostrar-lhe também a água que escorre da nascente, tão límpida e fresquinha que faz gosto!... E o lago então, como é lindo e transparente, onde tomamos banho e lavamos a roupa, mas sem sujá-lo, porque nós amamos a natureza, pois sabemos que ela é sagrada!

Quando retorna com o seu pai, para a cidade, Bentinho, bastante taciturno, vai imaginando em como seria perfeito, maravilhoso mesmo, se todos reverenciassem a Mãe Natureza, como a gente boa, simples e feliz daquela aprazível aldeia! Então, num arrebatamento, exprime enérgica e claramente sua opinião ao seu pai, que o olha com silente deferência e impressionado, com a consciência desenvolvida daquela criança, de coração nobre! De repente, uma brisa suave percorre os campos, que circundavam a estrada por onde passavam...  

©Daura Brasil
São Paulo - 2007


                                                 
 
Jaraguá Clube Campestre - São Paulo - Foto by Daura