A mãe

Longa noite de inverno. E a mulher gritava sem parar, retorcendo o corpo magro, mordendo os lençóis sujos. Uma velha vizinha sua na pequena água furtada, teimava em fazê-la engolir alguns tragos de um vinho espesso e azul. A chama da lâmpada morria lentamente.

O papel das paredes, apodrecido pela água, descolava-se em grades farrapos, oscilantes à aragem noturna. Ao pé da janela dormia a máquina de custura, com o trabalho ainda preso entre os dentes. extinguiu-se o lume, e a mulher, sob os dedos trêmulos da velha, continuou gritando na sombra.

Deu à luz pela madrugada. Agora senti-se invalida por estranho e profundo bem-estar. As lágrimas caían-lhe dos olhos entrecerrados. estava sozinha com filho. Porque aquele embrulhozinho de carne tenra e cálida, colado à sua pele, era sue filho...

Amanhecia. Um clarão lívido veio manchar a miserável habitação. Lá fora, a tristeza do vento e da chuva. A mulher olhou para o menino, que lançava seu gemido novo e abria e aproximava a boca, a boca vermelha, a larga ventosa sententa de vida e dor. E então a mãe sentiu uma imensa ternura subir-lhe à garganta. Em vez de dar o seio ao filho, deu as mãos, suas descarnadas mãos de operária; agarrou o pescoço frágil e apertou. Apertou generosamente, amorosamente, implacavelmente. Apertou até o fim.

shim akuma
Enviado por shim akuma em 25/02/2005
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