Professor Pardal

- Meu bem, acabo de ter uma idéia fantástica!
- Mais uma? Como é que eu entro bem dessa vez?
- Não tem nada a ver com você.
- Graças a Deus. Espero que seja verdade. Cada vez que você tem uma idéia fantástica eu envelheço dez anos.
- Então escute aqui, minha querida tricentenária: acabo de inventar o Euróscopo. Que tal?
- Que tal o quê?
- O nome. Euróscopo.
- E daí?
- Burrinha, Horóscopo, Euróscopo. Notou a ligação?
- Sim. Os dois têm copo no final.
- Mas euróscopo tem euro no começo.
- Coisa que você não tem nem nunca teve no bolso.
- Claro. Parece que o mundo conspira para que minhas idéias não vicejem. Falei bonito..vicejem...a começar por você, que sempre joga um balde de água fria em meu entusiasmo.
- Se fosse assim, meu querido gênio, você viveria resfriado. Você solta mais idéias por dia do que minha avó solta puns por mês. Mas o que seria esse tal de euróscopo?
- Predições baseadas nas moedas. Análises das vidas pelas moedas.
- As que a pessoa tem no bolso na hora da consulta?
- Não, amor. Que moeda era a forte no dia, mês e ano em que a pessoa nasceu.
- Uma idéia, como sempre, maravilhosa, meu bem. Tão fácil...Se a pessoa nasceu em 1947 basta ir à biblioteca, pedir jornais daquela época, verificar qual era a moeda forte naquele dia, mês e ano e, pronto, já estará devidamente euroscopada. Não é isso?
- Basicamente sim.
- Sua mãe estava brincando ou você tomou mesmo leite de égua quando criança? Parece-me que foi assim que você parou de ter pneumonias; não foi?
- Foi. O que é que tem isso a ver?
- Com o tal euróscopo nada, mas talvez tenha a ver com suas idéias de jerico.
- Idéias de jerico...Um dia ainda reconhecerão meu gênio, querida. Aí eu estarei lhe dando um calaboca definitivo.
- Deus que te ajude. Agora me deixe trabalhar nessa tradução que eu não nasci com o dom da inventividade.
- Lembra quando eu inventei a caneta que escreve em qualquer idioma?
Os dois riram de chorar. Foi a única vez em que ele ganhou dinheiro. Um sujeito muito afoito pagou um dinheirão pela “patente” da caneta que escrevia em qualquer idioma e depois, envergonhado, não teve coragem de voltar pra reclamar. Ou morreu de raiva, sabe se lá...
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 06/06/2007
Reeditado em 22/07/2007
Código do texto: T516208
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.