Uma "Sogra" Inesquecível- Histórias de Amor Safado



Ela não era exatamente o tipo de namorada que eu estava procurando. A beleza deixava bem a desejar, mas o sorriso era fácil e bonito, o corpinho magro não era de se jogar fora, era inteligente e tinha muito senso de humor. Enfim, pra resumir, uma mocinha com quem era gostoso conviver, jogar conversa fora, rir da vida, dar uns amassozinhos sem grandes ardores. Mas eu estava mesmo era muito a fim de um mulherão. De uma daquelas fêmeas que jogam o nível de adrenalina da gente para o alto, fazem disparar o coração do homem, e obrigam-nos a ajeitar uma certa parte do corpo quase que o dia todo. Naquela franguinha bonitinha, engraçadinha, jeitosinha, faltava carnes e fogo. Coisa meio morna para o meu gosto.
- Não vejo a hora de te apresentar à mamãe, amor. Acho que vocês dois vão adorar um ao outro. Ela é uma pessoa maravilhosa, meu querido. Amo a risada de minha mãe. Ela tem um senso de humor fantástico!
Pensei logo em uma frangona em escala maior, um tanto quanto murcha e seca, e fui adiando a possibilidade do encontro o mais que pude. Não estava com a mínima vontade de comprometer-me conhecendo a família dela. Na verdade, creio que nós dois estávamos namorando um com o outro apenas por falta do que fazer. Ou pela simples necessidade do contato com o sexo oposto.
Um dia, passeando com ela pela Domingos de Morais, vi à nossa frente, de costas para nós, uma mulher de longos cabelos negros, cintura fina, bumbum um tanto quanto arrebitado, enfiada em uma justa calça jeans e com uma larga blusa branca. Passei a observá-la e vi logo que era o tipo da mulher que vinha habitando meus sonhos havia algum tempo. Gostosa, era o mínimo que se podia dizer, vendo-a de costas. “Tomara que a cara corresponda ao corpo...”. Pensando nisso apressei um pouco o passo, puxando a moça pela mão, e fiz o possível para alcançar e ultrapassar discretamente a mulher. Minha namorada segurou-me, sorrindo e disse baixinho:
- Você nunca adivinharia quem é aquela senhora à nossa frente.
- Claro que não, minha querida. Não conheço todo mundo em São Paulo...
- É mamãe. Viu só que coincidência incrível?
- Sua mãe? Muita coincidência mesmo. Vai me apresentar a ela?
- Claro. Sou doida pra vocês dois se conhecerem; já não te disse?
Alcançada a mamãe dela, fiquei besta quando a vi de frente e de perto. Que mãe, meu Deus do céu!! Mãe pra fazer a felicidade de qualquer pai nesse mundo!!
- Muito prazer, senhora...
- Senhora? Deus que me livre, moço! Você, por favor. Você.
- Muito prazer em conhecê-la, Você. Ela não me contou que a mãe era tão bonita assim.
- Bondade sua, moço. Fernando, seu nome; não é?
- É, mas se não gostar dele, posso trocar agora mesmo.
Nós três rimos com vontade de minha bobagem e alguns minutos depois éramos todos velhos e bons amigos de infância.

De repente, não mais que de repente, passei a ter um grande interesse em freqüentar a casa de minha namorada. Dei algumas indiretas sobre a chatice de ficar namorando no portão, sobre o cansaço que dava ficar andando pra lá e pra cá na rua dela, sobre a dureza dos bancos da praça em minha bunda, e acabei convidado a tomar lugar no sofá da família. Família, felizmente, constituída de uma mãe (e que mãe!!), uma filha (comunzinha..), um cachorro chatíssimo e peidorreiro, e ainda de um maldito papagaio que era o suplício de qualquer ser humano normal (cada vez que eu abria a porta do banheiro, que era onde ele dormia, o famigerado penoso me chamava de filho da puta vinte vezes seguidas. Isso durou até o dia em que lhe dei dois bons tapas na cara e ele passou a seguir-me amorosamente por toda a casa. Acho que era gay, do tipo “mulher de malandro”.) Bem, lá estava eu acomodado no seio da família. Se bem que preferisse os da mãe.

Um dia minha namorada teve que viajar às pressas e não teve tempo de avisar-me para não perder tempo indo à casa dela. Fora sozinha até a casa da avó, em outro estado, e deixara com a mãe um carinhoso bilhete para mim.
- Hoje você perdeu viagem, genrinho...Sua namoradinha teve que ir até a casa de minha ex-sogra pra receber umas coisas que o pai deixou pra ela. Quer entrar?
- Melhor não...Acho que não ficaria bem sem ela aqui...
- Que bobagem, meu querido...Somos dois adultos e não temos que dar satisfações a ninguém.
Era tudo que eu queria. E fazia tempo.
- Tem toda a razão, sogrinha. Que se dane o mundo então.
Entrei, sentei-me no sofá já meu velho conhecido, esperei pelo café quentinho que ela sempre me trazia, e com o mesmo prazer de sempre, vi-a sentar-se à minha frente, na velha e confortável poltrona que era sua preferida.
- Então, meu querido? Muito aborrecido com a viagem sem aviso da namoradinha?
- Nem um pouco,
- Nem um pouco mesmo?
- Nem um pouco mesmo. Faz tempo que venho aqui por sua causa. Só por sua causa.
- Já reparei, e também faz tempo. Não fica com remorso por enganar minha filha?
- Nem um pouco. Ela não é doida por mim nem eu por ela. Sabe que nunca dissemos um “eu te amo” um para o outro?
- Jura?
- Quero ver a mãe dela desmaiada na minha cama se eu estiver mentindo.
- Desmaiada? Não serve fingindo um desmaio?
- Melhor ainda. Muito melhor mesmo.
- Então eu vou te contar a verdade. A verdade verdadeira: minha filha fica seis meses comigo e seis meses com meu marido. Ela gosta tanto de um quanto de outro e a coisa funciona bem. Agora ela vai passar o segundo semestre do ano com o pai, quando voltar da casa da avó, e eu ficarei sozinha em casa. O que você acha?
- Melhor do que isso é impossível. E ela, será que ficará chateada se eu me oferecer pra cuidar da mãe dela?
- Nem um pouco. Ela não é boba e já percebeu nossa atração mútua.
- Nossa atração mútua? Repita essa frase até eu te carregar pra cama, repita.
- Nossa atração mútua, nossa atração mútua, nossa atração...
Que mãe!! Até hoje o Dia das Mães é um dia que me faz sentir saudades. De minha mãe, de quem ainda posso matar as saudades, e da mãe de minha ex-namorada, cujo ex-marido, com quem ela voltou a se casar, pode me matar se eu aparecer por lá.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 07/06/2007
Reeditado em 22/07/2007
Código do texto: T517076
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