Linda e Solitária



O baile estava animado naquele clube, naquela cidade do interior de Minas. Muitas moças bonitas, música gostosa de se ouvir, as cervejas bem geladas, os garçons atenciosos, enfim, um ambiente perfeito para a alegria de uma noite bem vivida.
Jovem, solteiro, forasteiro, era olhado a toda hora por simpáticos pares de olhos femininos e lamentava intimamente jamais ter sido bom em danças. Tremendo perna-de-pau, eu me virava bem apenas na valsa, da qual aprendi os rudimentos e com eles sempre me virei.
À minha frente, a uma distância de talvez uns dez metros, uma morena linda sorria o tempo todo, conversava muito, agitava-se e cumprimentava à torto e à direito. E ninguém a tirava para dançar.
- Coisa estranha, sô...Uma morena tão linda ficar sentada o tempo todo...Será que não há um único cara de bom gosto nessa cidadezinha?- comentei com o colega ao meu lado. Ele apenas balançou os ombros e continuou com seu xaveco com a colega ao lado.
Continuei a observar a moça e a sentir-me cada vez mais incomodado por vê-la tomando um chá-de-cadeira em todo o decorrer do baile até aquela altura.
- Não é possível...Ninguém tira a coitadinha pra dançar. Tem cabimento? Quando tocarem uma valsa vou tomar coragem e chamar a coitadinha pra um remelexo no salão.
A orquestra tocou de tudo. A certa altura cheguei a pensar que não conheciam a valsa naqueles confins do mundo.
Conheciam. E a valsa por mim muito esperada retumbou de repente no salão.
Levantei-me, estufei o peito – o que é um sinal para mim mesmo de que estou decidido a fazer alguma coisa custe o que custar- e aproximei-me da linda moreninha abandonada em sua mesa:
- Boa noite, moça linda. Posso ter o prazer de sua companhia nesta valsa?
Ela sorriu lindamente, baixou a cabeça e explicou em voz baixa:
- Infelizmente, moço, eu não tenho as duas pernas. Dos joelhos pra baixo...
Estava explicado porquê ninguém a tirava para dançar. Linda coitadinha...Mas não seria isso um empecilho que me fizesse desistir:
- Ora, não seja por isso. Você é, além de linda, magrinha. Posso pegá-la pela cintura e dançar a noite toda com você.
Dançamos muito. Tempo suficiente para um início de auspicioso relacionamento. Ela era linda de rosto, perfeita de pele, durinha de seios, bem feitinha em tudo que lhe sobrara depois de um pavoroso acidente. E como se diz: pra que pernas se elas são as primeiras coisas que a gente põe de lado na hora do “vamos ver”?
Dançamos, rimos, conversamos, contamos casos engraçados, relembramos a infância, trocamos confidências, e já era madrugada quando a levei para casa.
Levei-a para sua casa, mas no caminho a tentação crescia a cada palavra, a cada gesto dela. Eu a acariciava e ela correspondia ardorosamente.
- Eu moro aqui nesse sítio. É só empurrar a porteira e entrar com o carro.
Desci do carro, empurrei a longa porteira, voltei ao carro e entrei na rústica propriedade.
A meio caminho da casa vi uma grande árvore com um comprido galho. Como quem não quer nada, parei o carro ali, saí, dei a volta, abri a porta, peguei a linda moça pela cintura e sugeri com um gesto que ela se pendurasse no galhão. Ela o fez sem pensar duas vezes e eu a possuí por muito tempo.
Possuída diversas vezes, satisfeita e amorosa, ela se soltou do galho e eu a conduzi nos braços até a porta de sua casa, onde bati discretamente.
Um minuto depois uma gorda senhora abriu a porta e seu sorriso foi de orelha a orelha:>
- Moço, o senhor é um perfeito cavalheiro!!!
- Que isso, minha senhora? Não fiz mais do que minha obrigação. Afinal de contas...
- O senhor é um cavalheiro muito fino, sim. O pessoal da cidade tá acostumado a comer essa menina e depois “deixar ela” pendurada na árvore a noite toda.

Os: Confesso que essa história não é minha. Apenas adaptei uma velha piada que sempre gostei de contar. Como piada não tem dono...
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 07/06/2007
Reeditado em 22/07/2007
Código do texto: T517222
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.