O “Conto” do Papai Noel

Mariazinha e Afonso viviam no interior da capital de Belém, brincavam de pular do trapiche dentro d’ água e de deslizar no rio, remando sem parar os cascos. Quando a chuva se fazia serestar nas telhas de palha da casa, os impedia de sair. Mesmo entristecidos faziam seus bonecos de sabugo de milho e miriti e assim levavam o dia inteiro a se divertir.

De seus sonhos em sonhos aquela fantasia que fazia rir. Maria queria ser cantora e Afonso, queria conhecer o tal Tarzan, pois este viajava num cipó de um lugar para outro, além de falar a língua dos animais. Sem heróis, sem castelos e nem rubis. Tinham medo de Sacis, da Matinta pereira, do boi tatá, da mãe da água, do boto e do curupira. Acontece que era dezembro e para controlar o ímpeto dos meninos, que como toda criança se punha a inventar. Dona Wilse lembrou que ouviu de seu pai com a sua mãe falarem do tal de papai Noel. Assim, como a ilusão se faz sem céu, dona Wilse disse aos meninos:

- Meus filhos estamos na semana do Natal, então quem não fez mal criações e fez a lição receberá uma compensação. Faça as suas cartas de pedido ao pai ou a mãe e vão colocar sob a rede os seus tamanquinhos, para que o papai Noel possa analisar o comportamento anual dos dois e ai então lhes dê o brinquedo, que vocês almejem.

Por um instante os meninos calaram e com se tivessem sido despertados, a tagarelice descarrilou. Maria com aquela cabeça raspada e aquele vestido feito a mão como colcha de retalho perguntou e perguntou detalhes, que lhe foi explicado e convencida correu pra sua rede enquanto Afonso, com sua calça tucandeira e cabeça pelada, no chão da esteira só fazia esperar. Juntos fizeram o pacto de ver o tal de Papai Noel, porém enquanto o candeeiro ia com a brisa se apagando, os meninos foram enganados pelo sono.

Lá fora a chuva e a noite dançavam com os vaga lumes e os grilos numa orquestra sinfônica, de um natal, mais do que um simples dia. E nesse agito a calmaria tomou posse e logo foi amanhecendo.

Quem primeiro abriu os olhos foi Afonso, que sem aguentar acordou Maria e juntos olhando para baixo da rede, na direção dos tamancos não viram nenhum presente.

Amazelados de dor por pensar que papai Noel não tinha vindo por eles terem sido mal criados, pelo menos era o que choramingava Maria, foram em direção ao pai Benedito questionar, visto que Dona Wilse tinha acabado de sair.

Papai Bené pensando no que dona Wilse dissera, reclamou consigo, mas os abraçou com todo o carinho e falou:

- Não meus meninos. Papai Noel não faz distinção e a desobediência é tão pequena que vale a pena perdoar. Papai Noel deixou comigo essa incumbência, mas eu não pude atender. Estou desempregado, mas prometo a vocês que o ano que vem vocês vão ter.

E assim todos os anos era um abraço, até que os dois pequenos cresceram e entenderam a razão da verdade.