O Despertar
Não havia mundo que o despertasse daquele torpor estranho. Sua mente simplória estava conectada aos fios invisíveis o ócio, que lhe ditava ações, sentimentos e vontades. Imerso em sons e cores vibrantes, seus olhos vidrados acompanhavam os movimentos rápidos que ali lhe refletiam. Vidas falsas compartilhadas em sorrisos montados que escondiam tristezas. Protestos e críticas, depoimentos vazios, tudo isso lhe era importante, pois era o seu mundo.
O falso viver apenas o encantava.
Súbito o que lhe conectava desligou-se de seu corpo e mente, tomado por um desespero abrupto, como um recém-nascido, seus olhos perdidos guiaram-se ao seu redor. Notou que outros como ele ainda adormeciam ao seu lado, presos a pequenos conectores brilhantes, perdidos e absortos que mal notaram a sua presença.
Notando sua própria existência humana, cores e sons invadiram seus sentidos. O vento farfalhou nas copas das árvores, e os pássaros revoaram alegres no céu. Explosões de vida. E isso o deixou em dúvida, será que deveria despertar os outros?
Sentia-se tolo. Como um homem a viver dentro de uma caverna repleta de sombras que apenas imitavam a realidade, ou um mundo que não conhecia.
E assim, aquele homem, deu-se conta de sua estranha obsessão, não podia sentir as correntes que o aprisionara pois elas jamais o causaram incomodo. Entretanto, agora, sábio, para libertar-se daquela prisão era fácil, deveria apenas desligar a porcaria do celular.