A MORTE DE UM RAPAZ

Parecia que estava dormindo. Mas estava no mistério da morte e

naquele momento tinha o poder de cessar todos os risos, de expandir

a tristeza, de deixar os homens perplexos. As lembranças passavam

pelas memórias que falavam de uma vida que existiu naquele rosto.

Agora, o inacreditável dentro da realidade que cresce estonteante. In-

diferente às flores, prosseguia a espantar os homens sabendo da po-

dridão que o aguardava. Parecia que estava sonhando, mas sabia

das cinzas e da solidão que o esperava. O céu? o inferno? o ócio? De

nada sabia e tinha certeza que ninguém sabia de nada. Os homens

choravam e ele achava que o choro vinha tarde.

Morto. Não haveria mais cheiro de café e as manhãs de domingo

não existiriam mais com suas possibilidades. Não haveria mais as estre-

las e nem as mãos acariciando um rosto numa esquina de uma rua.

Purificado para o esquecimento. Era inútil sonhar que seria diferente.

Os seus dias passaram e sua história, que ontem comoveu muita gen-

te, seria vivida por outro que amanhã também seria tragado pela

morte. E haveria outro assombro, outras flores, mas as lágrimas seriam

as mesmas com seu gosto de falsidade.

JOAQUIM RICARDO
Enviado por JOAQUIM RICARDO em 07/06/2007
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