A MORTE DE UM RAPAZ
Parecia que estava dormindo. Mas estava no mistério da morte e
naquele momento tinha o poder de cessar todos os risos, de expandir
a tristeza, de deixar os homens perplexos. As lembranças passavam
pelas memórias que falavam de uma vida que existiu naquele rosto.
Agora, o inacreditável dentro da realidade que cresce estonteante. In-
diferente às flores, prosseguia a espantar os homens sabendo da po-
dridão que o aguardava. Parecia que estava sonhando, mas sabia
das cinzas e da solidão que o esperava. O céu? o inferno? o ócio? De
nada sabia e tinha certeza que ninguém sabia de nada. Os homens
choravam e ele achava que o choro vinha tarde.
Morto. Não haveria mais cheiro de café e as manhãs de domingo
não existiriam mais com suas possibilidades. Não haveria mais as estre-
las e nem as mãos acariciando um rosto numa esquina de uma rua.
Purificado para o esquecimento. Era inútil sonhar que seria diferente.
Os seus dias passaram e sua história, que ontem comoveu muita gen-
te, seria vivida por outro que amanhã também seria tragado pela
morte. E haveria outro assombro, outras flores, mas as lágrimas seriam
as mesmas com seu gosto de falsidade.