Senhor Diretor

Montes Alpes, 10 de Fevereiro de 2015

Senhor Diretor

Venho por meio desta informar que estou imensamente indignado com o que presenciei no último domingo, 08 de fevereiro, no Parque Municipal desta cidade. Este cidadão que vos escreve, piraporinhaense de nascimento, nunca viu, presenciou, participou ou ouviu falar de situação semelhante.

Lá estive com meus netos e minha esposa durante a tarde para nosso merecido descanso. Quando descemos do carro, ainda no estacionamento, percebemos uma placa com os dizeres "área reservada para casais". Como se não bastasse as palavras do aviltante letreiro, encontramos logo acima o símbolo de uma maçã mordida! Meu netinho de dez anos, atento à placa, pediu para estacionarmos em outro lugar, dizendo que ali os "namorados faziam coisas". O senhor imagina como eu fiquei? Nem consegui falar nada para as crianças.

Tivemos que estacionar em frente a sorveteria do Mané e voltar a pé até o parque! É este o tipo de resultado que o senhor e seus subordinados querem com ideias assim? O Departamento, desta forma, não só não resolve o problema das vergonhas que tem acontecido naquele local, como agora traz constrangimento aos cidadãos de bem, que tem o parque como única forma de diversão na cidade para os fins de semana.

Peço encarecidamente para que o senhor ordene a retirada daquela placa.

Sem mais para o momento, renovo protestos de consideração e apreço.

Ilmo sr. Marcowilson Josias de Medeiros

Chefe do Departamento de Trânsito

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Montes Alpes, 12 de fevereiro de 2015

Prezado sr. Juvelcino

Compreendo plenamente a indignação do senhor ao ver a placa indicando área oficial para prática de sexo ao ar livre. Nosso Parque é considerado importante ponto turístico da cidade e tal sinal não é compatível com a condição de ambiente familiar do local.

Gostaria de esclarecer que este setor não é responsável pela sinalização - aparentemente perfeita - no local e acredito que o autor da brincadeira usa a área para comportamento imoral, tanto quanto imoral foi ter tido esta ideia.

Recebemos cartas, e-mails e ligações sobre o assunto. Até a rádio da cidade entrou em contato. Solicitei a remoção da mesma e os funcionários, chegando ao local, foram informados de que a placa havia sido retirada pelos próprios moradores vizinhos.

Outras providências já foram tomadas. À polícia foi solicitada investigação sobre o caso. Ao setor de vigilância pedi que casais mais ousados sejam denunciados. E em comunicado ao setor de Obras, pedi que os funcionários responsáveis pela limpeza do parque recolham os preservativos do asfalto, gramado e calçadas.

Atenciosamente

Marcowilson

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- Vô, porque a cidade tem esse nome? - pergunta Pedrinho, lendo em voz alta a data da carta endereçada ao sr. Juvelcino, que se esforçava para que a família esquecesse o assunto. Depois de dar uma bronca no neto, ordenando que pusesse a carta de volta na mesa e lembrando em voz alta que é falta de educação ler a correspondência dos outros, explicou satisfeito:

- É uma história muito bonita! Quem deu este nome em 1965 foi o prefeito, que se chamava Giovaldo Batista. Homem de muita cultura, filho! Antes disso, o nome da cidade era São Bento da Piraporinha, desde quando era uma pequena vila formada por dez casinhas e uma igreja. Havia algodoais no topo das duas partes mais altas da região - Monte de São Cristóvão e Monte Verde. Em seus discursos, quando ainda era vereador, o saudoso dr. Givaldo dizia que tínhamos o privilégio de morar naquele lugar, que era o Alpes Suíços paulista. Sempre que falava ao povo, apontava para os picos e ninguém ficava indiferente! Todo mundo olhava, admirado. Quando foi eleito, uma das primeiras providências que tomou foi mudar o nome da cidade!