Sósia de Quem? Histórias de Amor Safado.

Sempre que estréio uma roupa nova alguma coisa diferente acontece em minha vida. Às vezes tenho até medo de comprar roupas, porquê foi numa dessas vezes que acabei conhecendo uma moça linda, casando-me e vivendo uma vida besta de mal-casado durante vários anos. Até que um dia preparei mil argumentos para conseguir dela a separação e não foi preciso utilizar nenhum deles. Ela aceitou tão bem a separação imediata que de certa forma fiquei até magoado.

Bem, voltando à história que quero contar, um dia, já desquitado, saí com o bolso recheado com um bom maço de notas. Um bom tanto de dinheiro compactado por elásticos bancários, e fiz a festa: comprei dois ternos, várias camisas, algumas gravatas, sapatos de qualidade, meias bonitas mas vagabundas – pois nunca invisto muito naquilo que não aparece logo, tal como cuecas e meias- enfim, cobri a carcaça com os panos que achei mais elegantes e saí pela noite afora, caçando, mas como quem não quer nada.

No centro da cidade resolvi entrar em um famoso bar e, quem sabe, até tomar uma cerveja no balcão, coisa que detesto fazer. Mas eu tinha que fazer alguma coisa além de desfilar minha elegância pelo centro…

Mal entrei no bar o homem atrás do balcão abriu o maior sorriso possível. Sorrindo, abriu os braços, deu a volta ao balcão e juntou meu corpo ao dele em um abraço que deve ter aprendido com algum urso. Abraçou-me, rodou-me, levantou-me no ar e pensei que acabaríamos o ato em um beijo ardoroso. Mas ele me soltou e ficou apenas me olhando, como que encantado, extasiado, incrédulo que eu estivesse ali, no modesto estabelecimento dele.

Tentei saber quem eu era para ele, mas não tive tempo. Balançando a cabeça, cheio de gestos incompreensíveis, o homenzarrão dirigiu-se ao balcão, entrou atrás dele e me fez apenas um gesto de “espere um pouco” com a mão espalmada e o braço estendido em um gesto teatral.

Claro que esperei. Esperei sorrindo e pensando como é que sairia daquela situação sem deixar o homem triste, pois me parecia boa pessoa.

Pouco depois ele voltou com um prato nas mãos. Segurava, de modo solene, um prato nas mãos e o depositou à minha frente, àquela altura já instalado em uma discreta mesa de canto, e disse-me emocionado:

- Está vendo? Nem precisou pedir. Agora, mate as saudades e depois conversaremos. Colocaremos nossos assuntos em dia. Fique tranqüilo que vou dar ordens de que não seja incomodado.

No prato um sanduíche fantástico, maravilhoso, como igual eu nunca tinha visto ou mesmo sonhado que existisse.

Por trás do caixa o homem me olhava e várias vezes pensei que fosse me mandar beijinhos. Depois de um sanduíche daqueles, talvez eu até correspondesse. Comi saboreando devagar cada pedacinho daquela coisa divina.

Mal acabei de dar a última dentada e engolir o último restinho de cerveja, o grandalhão surgiu à minha frente:

- Adivinha, adivinha, adivinha quem está à sua espera no andar de cima? Duvido que adivinhe…

Fiz minha melhor cara possível de “ é claro que eu sei quem é…” e ele me mandou subir. Elvira ficaria louca de alegria, avisou-me enquanto eu me afastava.

Subi a escada indicada, pé ante pé, degrau ante degrau, doido pra soltar um belo e sonoro arroto, e cheguei à única porta que vi. Quando ia bater discretamente, a porta se abriu e uma bela Elvira agarrou-me, puxou-me para dentro do quarto e praticamente despiu-me e possuiu-me na semi-obscuridade do quarto. Uma rapidinha eficiente. Ainda bem que eu não tinha jantado. Seria congestão na certa.

- Agora, meu querido,vá embora correndo. Assim ele não desconfiará de nada. Vai achar que não deu tempo de a gente…pecar.

Ciente do tamanho do ele, vesti-me mais depressa do que qualquer piranha é capaz de tirar só a calcinha, e logo descia a escada.

Aproximei-me do balcão e fiz um discreto e simpático gesto ao meu novo e grande, grandalhão, amigo. Ele já veio ao meu encontro com a mesma esfuziante alacridade:

- Nem precisa falar. Nem precisa explicar. Já sei. Já sei. Corre para o teu show que está em cima da hora. Durante a madrugada a gente conversa. Se há uma coisa que eu sei é lidar com a artistas. Conheço as vidas corridas que têm. E você sabe que eu sei disso tão bem quanto eu mesmo.

Até hoje eu tenho saudades da Elvira Rapidinha e daquele sanduíche fantástico, mas cadê coragem de ir lá e pedir que o homenzarrão me diga com quem me confundiu ? Com o Tarcísio Meira eu sei que não foi. Será que foi com aquele feioso que trabalha em tudo que é novela? A mulherada diz que ele é tão charmoso quanto feio…

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 12/06/2007
Código do texto: T523130
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