O.V.N.I, Pode Acreditar Histórias de Amor Safado

Quanto à história de hoje eu sei que posso jurar que é verídica que não adiantará. A grande maioria não hesitará em chamar-me de mentiroso. Do mesmo jeito que vários de meus amigos e parentes fizeram, na cara dura, sem a menor cerimônia. Sem contar aqueles que simplesmente caíram na gargalhada e saíram andando como quem diz: “vá sacanear outro, meu…”.

Essa história, em todos seus detalhes, aconteceu em uma de minhas muitíssimas viagens pelo interior de Minas Gerais, minha terra natal (aposto que muitos preconceituosos pensarão ou dirão agora: só podia ser coisa de mineiro…).

Ao chegar a Lavras, dormi em uma espécie de habitação em que uma placa dava o sofisticado nome de Hotel.( E devia ser de muitas estrelas, já que pelos buracos das paredes eu as vi em quantidade no lindo o céu de Minas).

Na manhã seguinte, alquebrado, indisposto para mais um dia de trabalho, acordei bem cedo, tomei uma água amarela adoçada ao extremo, que chamaram de café ao servir-me, e corri para o ponto de táxi. Ou melhor, do táxi. Naquele tempo acho que só havia um por lá. E já estava sobrando, tendo em vista a cara de fome do dono. Teria que continuar a viagem de táxi porquê o peso da mala de bijuterias que eu teria que entregar era imenso. Quase estourei o coração ao tirá-la do ônibus.

Quando eu disse que meu destino era Tiradentes, o taxista levantou as sobrancelhas até perto do final de sua testa:

- Tiradentes, moço? Pertim de São João Del Rey?

- O senhor conhece outra cidade com esse nome, e que fique longe de São João Del Rey?

- É muito dinheiro daqui até lá, moço.

- É isso que eu quero saber, meu amigo: quanto é muito dinheiro pro senhor?

Depois de uma longa e cansativa negociação, na qual o preço ficou como gangorra, pra lá e pra cá, entramos em acordo e embarquei no carro.

Não cheguei a fechar a porta e uma mocinha surgiu correndo e me fazendo sinais de longe.

- Espere um pouco, meu amigo. Parece que aquela moça quer falar com um de nós dois. É parenta sua?- perguntei ao motorista.

- Nunca vi essa fulana antes.

A moça chegou à porta do carro, do meu lado, e perguntou, ofegante:

- Moço, moço, pelo amor de Deus, o senhor vai pra São João Del Rey?

- Bem, na verdade eu vou pra Tiradentes, mas de lá até São João…

- Tá ótimo, tá pra lá de bom. O senhor me dá uma carona?

Ao vê-la de perto, tão lindinha e tão nervosa, pensei em dizer-lhe que lhe daria carona até em meu colo, quanto mais no táxi. Mas só pensei nisso. Só pensei e abri a porta traseira.

Depois que ela entrou, pensei melhor e resolvi viajar lá atrás também.

Um em cada janela, viajávamos calados e parecia não haver jeito de iniciarmos uma conversa. Devia ser o sono que ainda não nos deixara de todo.

Eu já estava quase cochilando quando o motorista deu um berro. Não foi um grito não. Foi um berro mesmo:

- Meu Deus!!! O que é aquilo ???

Levei tanto susto que quase fiquei em pé dentro do carro, e a mocinha ao meu lado quase que abre a porta e pula na estrada, sujeita a se ralar toda.

- O que é, homem de Deus? Que catzo de berro foi esse?

- Olha lá, moço !! Olha lá no céu, moço!!

Olhei para o céu e não vi coisa alguma.

- Levou susto com as nuvens brancas, meu amigo?

A essa altura o carro já estava parado e o homem tremia como vara verde (eu nunca vi vara verde tremendo, só balançando, mas como figura de retórica…).

- O senhor já viu nuvem redonda, escura, daquele tamanhão, voando sozinha no céu?

Olhei para onde o bração comprido dele apontava e fiquei com os cabelos em pé.

Um disco enorme, cinza, muito escuro, percorria o céu à nossa frente a uma velocidade incrível, indescritível, inimaginável. Em um segundo, ou fração de, o troço ficava do tamanho de um pires e logo a seguir do tamanho de sei lá o que, de um ônibus talvez.

- Puta que pariu !! Essa coisa existe mesmo, cara!! Mas pra que tanto medo? O negócio está lá em cima, meu amigo. Não devem estar nem vendo a gente.

Naquela hora os caras dentro do disco devem ter ouvido minhas sábias palavras e resolveram mostrar que nos viam: simplesmente o disco voou em direção ao táxi como se quisesse provocar uma colisão. Só não sujei a roupa porquê o travamento anal deve ter sido hermético. A mocinha desmaiou, e o motorista corria pela estrada como uma galinha sem cabeça tentando fugir de quem a decapitou. Só eu permanecia parado. Valentemente parado porquê minhas pernas, essas covardonas, recusavam-se a mover-se um centímetro sequer. Devo ter ficando uma figura digna de se fotografar: cabelos arrepiados, olhos esbugalhados, pernas duras, e o resto do corpo tremendo desesperadamente.

A coisa sumiu.

Continuou sumida.

Permaneceu desaparecida.

Alguns minutos depois recuperei a calma. Voltei à minha frieza habitual em segundos (talvez o quê, uns quatro, cinco mil segundos, se tanto…), mas o motorista, coitado, ficou cheio de ciscos nos olhos e as lágrimas desciam-lhe pelo rosto abaixo. A mocinha, voltando a si, não sabia se ficava dentro do carro, se corria pela estrada, se gritava por socorro ou simplesmente caía morta de medo.

Procurei acalmá-la de todas as maneiras, inclusive alisando suas coxas carinhosamente, apalpando-lhe os seios até descobrir onde ficava seu coraçãozinho disparado, esfregando uma das mãos em suas costas por baixo da blusa (milenar massagem oriental que fui inventando na hora pra acalmar a coitadinha enquanto me acalmava também) e finalmente ela recuperou um pouco da calma.

- Mais calminha, minha querida?

- Agora tô…Nossa! Como você é valente, moço. Só você ficou ali pra ver de perto aquela coisa…E se eles atirassem alguma coisa em você? Se quisessem te matar?

Foi duro manter a cara séria, mas consegui:

- Eles viram que tinham a quem enfrentar, garota. Se eu tivesse saído correndo como o motorista, acho que estaríamos fritos. Eles iam abusar até não poder mais. Mas como me viram disposto a enfrentá-los, caíram fora.

- O que será que eles queriam de nós?

- Acho que de mim e do motorista, nada. Mas de você, bonita do jeito que é, acho que iriam querer muita coisa.

- Deus que me livre e guarde! Cadê o motorista?

- Acho que está atrás de alguma moita se limpando.

- Se limpando de quê?

- Adivinha…

Quando o homem tomou coragem e voltou ao carro meu olfato me disse que eu estava certo. Pena que não tivéssemos papel higiênico no carro. Traseiro mal limpo fede…

Fizemos o resto do percurso até Tiradentes agarrados. O motorista ao volante, com os olhos voltados para o céu, a moça agarrada a mim e eu agarrado a ela, dando-lhe força, coragem, alguns beijinhos carinhosos para que ela visse que não estava só e uns amassinhos respeitosos em seu corpo quente e excitado pela aventura.

Chegando a Tiradentes insisti com o motorista que dividisse um frango ao molho pardo (maravilhoso) conosco. Eu e minha protegida contra etês. A muito custo o homem aceitou. Estava desesperado para arranjar uma companhia até Lavras, morrendo de medo de viajar sozinho. Talvez tivesse a esperança de que voltássemos com ele.

Assim que entramos no restaurante, o dono, amigo meu, notou nossas caras e, rindo, nos avisou que não estávamos sozinhos naquilo:

- Aquele casal chegou agorinha mesmo. Estavam tremendo de susto também. Vocês devem ter visto o mesmo disco –voador que eles dois.

Mais do que depressa corremos para a mesa do casal.

- Então vocês dois também viram a coisa?

- E como vimos !! Cinza, redonda, enorme, numa velocidade de louco, sô…Olha como minhas mãos estão até agora.

Almoçamos juntos os cinco e é claro que o assunto foi um só. E a mocinha ao meu lado ficava cada vez mais apavorada.

Sempre pecando por “pensamentos, palavras e obras”, não resisti à tentação de afirmar, com a maior seriedade, que já lera sobre as conseqüências quando os extraterrestres cismam com alguém da Terra:

- Eles simplesmente abduzem a pessoa escolhida. Emitem um raio esquisito, muito claro, e a pessoa é levada para dentro do disco e de lá para o planeta deles.

A mulher abraçou o braço do marido e a moça agarrou o meu.

- Ai meu Deus !! Não diga uma coisa dessas, pelo amor de Deus…

- Não é melhor que eu diga? Que eu esclareça sobre o que pode acontecer? Mas eles podem ter cismado comigo, com o motorista, com o moço aí. Não precisa ser necessariamente com uma de vocês duas, uai.

A essa altura a caronista já estava mais grudada a mim do que uma tatuagem.

Final da história: ficamos no mesmo hotel, na mesma cama, no mesmo travesseiro, no mesmo estado de agitação (que eu não deixava cessar) e só conseguimos nos acalmar à custa de muito carinho, muita massagem, muito sexo (santo remédio…).

Na volta para São Paulo, que fizemos de ônibus, ela ficou com um tremendo torcicolo de tanto vigiar o céu.

Esse caso é O.V.NI: Ocorreu, Verídico. Não Inventei.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 12/06/2007
Código do texto: T523158
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