Alma adormecida

Ela estava no ônibus... Lia um livro comum... Um casal sentou-se no banco à sua frente. Conversavam, riam alto, beijavam-se... Ela perdeu sua concentração!

Começou a pensar que não tinha ninguém para beijar, ninguém para amar... Lembrou-se do passado, de seus amores perdidos, esquecidos pelo tempo... Queria alguém, mas não tinha!

Desceu do ônibus. Resolveu fazer o caminho mais longo para sua casa. Caminhou algumas quadras na escuridão, pois precisava pensar, precisava ficar sozinha...

A solidão sempre a fazia pensar demais no passado... Ficava triste, melancólica com suas memórias, seus pensamentos. Lembrou-se das pessoas que amou, não eram muitas, talvez não tivesse amado nenhuma! Mas lembrou de um certo rapaz, que foi muito especial em sua vida, foram poucos dias, é verdade... Mas ele a marcou! Parecia que havia marcado com fogo... Seu coração apertava cada vez que pensava nele, nos dias que passaram juntos.

Chegou em casa...

Não deu boa noite a ninguém. Foi direto para o quarto, trancou a porta, ligou o som num volume bem alto e deitou-se na cama.

Sua cabeça rodava, seu estômago revirava... Uma dor pulsante invadiu seu corpo. Ela já havia sentido isso antes, ficou angustiada. Parecia que seu coração ia sangrar, que pararia de bater a qualquer momento!

O que poderia fazer para que essa sensação parasse imediatamente?

Não sabia! Na verdade não queria pensar no que deveria fazer...

Levantou-se da cama, sentiu náuseas... Correu para o banheiro... Alguém bateu na porta e perguntou se estava tudo bem, ela respondeu que sim! Talvez fosse melhor tomar um banho, provavelmente melhoraria se o fizesse.

Tirou a roupa e entrou no box, ligou o chuveiro... A água quente escorria pelo corpo, foi quando ela se deu conta que começara a chorar... Um choro sincero, de mágoa, raiva e paixão... Um choro de desespero! Encolheu-se embaixo do chuveiro... Como fazer esse sentimento sumir, essa dor precisava desaparecer... Já havia tomado todos os antidepressivos de sua mãe uma vez, mas não conseguiu o resultado esperado, pois vomitara tudo, não tivera coragem suficiente de ir até o fim!

Mas agora parecia ser diferente... Lembrou do casal de namorados que vira no ônibus, sentiu mais tristeza... Saiu do box... Abriu o armário... Achou o estilete afiado! Era hoje que ela acabaria com esse sofrimento... Não escreveria nenhuma carta dessa vez...

A depressão tomou conta do seu pensamento!

Lembrou-se dele... Lembrou-se dos beijos que deram... Nada mais poderia receber desse amor, ele já estava longe dela, vivendo outras aventuras... Conquistando novos amores!

Ela voltou ao box... Não pensou em ninguém de sua família e nem em seus amigos... Segurou o estilete com firmeza e primeiro cortou seu tornozelo, o corte ardia com a água do chuveiro, as lágrimas escorriam pelo rosto... Gritou de dor, mas não desistira agora, precisava acabar com essa dor que a dominava...

Ela rezou... Rezou para que só retornasse à vida humana quando um verdadeiro amor pudesse ter... Rezou por descanso, por felicidade e por perdão...

Cortou o pulso esquerdo e depois o direito... O sangue escorria pelo ralo juntamente com sua alma que escorria para o submundo dos mortos, o mundo dos suicidas.

Sua alma estava amaldiçoada para sempre... Mas ela acabou com seu sofrimento carnal... Não sentiria mais a dor de um amor, um amor há muito despedaçado! Ela não sofreria mais... Sua alma ficaria adormecida até poder reencarnar novamente, e somente quando ela pudesse encontrar seu verdadeiro amor...

Ela descansou... Ela desistiu de sua vida... Abandonou a sua luta pela felicidade... Ela abandonou a todos que a amavam!

Lilith Góthica
Enviado por Lilith Góthica em 12/06/2007
Código do texto: T524472
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