Essa...

Eu não sou eu! E o que seria ser eu? Eu e alguns pedaços de Mundo, delirante ser vil, meio ruminante, meio palhaço, um esculacho de pessoa, solto, desfragmentando, transitando e tentando me equilibrar num torrão de terra vacante no Universo. Eu não sou nada além daquilo que as retinas alheias, mesmo as queimadas, formulam em suas idéias.

Poeta nunca fui! Sou um pateta que escreve as coisas na parede da vida com aqueles cacos de telha lançadas em terrenos baldios...

Há sementes de dúvida plantadas no inconsciente de cada alma que caminha por este globo terreno! Mas quem quer se preocupar com isso além de pastores, líderes religiosos e crentes doentes de todas as vertentes, ainda mais quando a fome bate na porta do bucho e a taquicardia acelera o peito ofegante?

Essa é para Alfredo de Almeida, que numa quinta feira, pulou a fogueira da roda dos cachaceiros, escorregou de bobeira e rachou a cabeça no centro financeiro de Poeirópolis. Essa é para Clotilde, pobre mulher humilde, mas com uma humildade que não pejorativamente financeira, mas uma simplicidade honesta que só quem é honesto sabe, atropelada pela roda desgarrada de um caminhão enquanto rumava para casa, requentar o almoço e transformá-lo janta! Essa é para Sebastião do cemitério, meio cego, solitário, austero e extremamente sério, mas que num dia de agosto resolveu cavar sua própria cova e se jogou lá dentro, se tampando de terra e concreto. Essa é para aquele menino de oito anos que passa todos os dias em frente à padaria e sente o cheiro quente e gostoso que de lá exala, mas sabe, numa realidade crua, que nada pode fazer para satisfazer seu desejo de sonho.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 02/06/2015
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