Relógio (Reféns Do Contador)

"Não se pode matar o que já está morto... Ou será que pode ?"

Vivendo em um apartamento minúsculo, tinha que fazer hora extra sempre, não tinha tempo para mim e minha cabeça, mas sempre tinha tempo para o chefe, com suas entregas repentinas, e eu como seu cachorro "bem alimentado" seguia-o sempre abanando meu rabinho, isso me corroía internamente, e meu ódio crescente de sua face e de seus horários também não me ajudavam a manter a sanidade.

TIC - TAC

Logo consequentemente comecei a usar drogas, das fracas porque consciência eu tinha. Minha preferida era o LSD, que me fazia esquecer da minha existência conjunta a aquelas psêudopessoas. Que como eu, funcionavam perfeitamente.

TIC - TAC

Me perdia em vários livros em meus escassos tempos fora do tempo, quem sabe para tentar nutrir a própria vontade de viver, ou para nutrir a vontade de quebrar aquele maldito relógio! Que insiste em me fazer lembrar que eu ainda faço parte do jogo de poder!

TIC - TAC

- Olá!, tudo bem ?, ahh!... Sim, pois é ela também esta muito bem.

"NÃO, É CLARO QUE ELA NÃO ESTA BEM, ELA CONTINUA BEBENDO SEU IDIOTA, TENDO QUE SUSTENTAR MEU IRMÃO DEMENTE! É MAIS QUE OBVIO QUE ELA SE AFOGARIA EM BEBIDAS"

E é claro que eu só pensava, pois a sinceridade ofende os tolos. Estava naquela medíocre festa cheia de burguesia e de nojeira, cheia de nojos e sujeira, de políticos e não políticos, e suas frangas pagas, que com o dinheiro as enchia de diamantes - e por isso ali estavam -, "se uma bomba caísse aqui e agora, o único que morreria aqui sou eu, porque o resto já esta morto" obviamente pensava, infelizmente pensava.

TIC - TAC

Margueritas iam e vinham, era a única coisa que me mantinha ali. Elas eram as únicas damas da festa que realmente mereciam atenção, o resto era só saco de carne, que "pensa". Meu chefe estava ao lado de seus semelhantes, rindo da escória, que ironicamente os sustentavam, e eles os "sustentavam".

TIC - TAC

- Resolvi trocar meu carro. Estava enjoado.

- Já era tempo aquele modelo passou da validade.

- Comprei um novo Porsche, agora de cor cinza, mas mesmo assim fiquei com o antigo, como recordação.

- Eu, já resolvi comprar uma Ducati, porque quebrei a minha, me deu preguiça de mandar arrumar.

- Ótimo, eu havia comprado uma pedra, pois é, muitas cilindradas, minha antiga pedra eu havia a acidentado.

- Minhas pedras também eram bem pedras, é pois é pedras.

- Pedras pedras pedras pedras pedras pedras pedras.

- Pedras pedras pedras pedras pedras pedras pedras.

TIC - TAC

- Meus parabéns chefe pela sua promoção !

- Muito obrigado, muito obrigado... Agora preciso que você cuide da festa de celebração, possa definir o local e como, preferencialmente um ponto turístico, mas escolha você, eu não tenho tempo para isso, então resolva tudo, até os preparativos.

- Com prazer, chefe - Essa talvez tenha sido uma das únicas afirmações sinceras que fiz a ele.

TIC - TAC

Quando cheguei daquela festa, não me conti, e mergulhei em loucas risadas em meu apartamento, ri amargamente por horas, e quando voltei a mim, agarrei aquele maldito relógio e atirei com todas forças no chão, partindo em inúmeras partes.

TIC - TAC

Eu era adestrado, fazia de tudo para meu chefe, era contador, secretário, platéia, surdo e mudo. Eu era o seu faz tudo, e por isso teria que organizar essa festa, e o lugar teria de ser perfeito para aquilo acontecer, e que lugar melhor do que o Big Ben em Londres? Afinal lá não é a terra dos Lordes? E ainda eles teriam todo o tempo do mundo...

TIC - TAC

O lugar realmente era perfeito, terminei meu trabalho rapidamente, tudo estava pronto, agora teria de ir para o restaurante aonde estava acontecendo a medíocre festa que havia preparado para eles, e logo depois todos iriam para o grande relógio.

TIC - TAC

- Senhoras e senhores viemos aqui brindar a grande promoção tida por nosso amigo querido _________ , meus parabéns! - Apertos de mãos e falsos sorrisos ali se encontravam. Todos os que eu queria estavam ali, então discretamente pedi para os outros serventes se retirarem da torre.

Tic-Tac fazia o imenso relógio em que nós estávamos, o barulho dos tiques ali era intenso, e as risadas deles ali eram vibrantes.

- CALEM A BOCA!!!!!!! PELO MENOS UMA VEZ. - Disse e todos ali estremeceram, dúvidas estavam estampadas em suas faces - Estão felizes não é ? Com seus carrinhos e reloginhos de ouro, e mulheres, hein ? - ninguém respondeu, apenas ficaram me olhando com uma cara de espanto - ESTÃO OU NÃO ESTÃO ?!!!? - Retirei minha pistola, que até agora estava escondida ansiando por sangue - de porco -, e apontei para o grupo que agora grunhia desesperadamente. Ninguém respondeu. Comecei a rir descontroladamente, eles continuavam a me olhar, e alguns tentaram fugir mas eu apenas levantei a pistola e eles voltavam para o bando choramingando.

- Vocês tem medo de uma pistola ? De uma minúscula bala ? Acho que vocês tem carros mais rápidos que ela, e maiores que ela, e mesmo assim tem medo ? Talvez esse seja o mesmo medo que alguém sente ao tentar atravessar a rua enquanto vocês correm com eles. E ainda pensem qual é o mais destrutivo ? A bala ou o carro ? Bom... Fiquem com essa indagação. - Me voltei para a porta e rumei para a saída, e eles ficaram lá me olhando sair de costas, quando cheguei na porta do elevador de metal, me virei para eles novamente.

- Depois que eu sair, vocês não viram atrás de mim, e nem desceram pelas escadas de emergência; Apenas se quiserem virar pó antes da hora, porque elas estão cheias de explosivos C4 e o elevador também estará quando voltar - Levantei meu paletó e revelei os quatro explosivos - O que mais....... Bom é isso, agora vou indo, desfrutem do resto da comemoração, pois vocês tem todo o tempo do mundo...

Vagarosamente desci, e quando estava na frente da grande torre do Big Ben, vi lá de cima despencar duas mulheres que se quebraram no chão, ri com isso, e logo depois tirei o controle do bolso e detonei todos os C4s existentes no edifício. O relógio o sino e a torre viraram grandes e lampejantes chamas.

E a partir daquele dia nunca mais ouvi o TIC - TAC

* * *

E ele seguiu sem receio ou remorso, agora ele era um novo homem, um homem livre e sem relógios...

FIM

Thomas Wells Loyst
Enviado por Thomas Wells Loyst em 03/06/2015
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T5265490
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