"Amor na Praia" = Histórias de Amor Safado

A barraca especial do Banco, na praia, estava lotada. Nem era pra menos, com um solzão maravilhoso, o mar calmo, a praia limpa, e ainda em época de férias escolares, mas mesmo com ela lotada, consegui uma cadeira emprestada com a dona na lanchonete, da qual era freguês de churrasquinhos e cervejas em todas as folgas.
Ajeitei a cadeira e, com uma garrafa de cerveja na mão e um copo na outra, sentei-me. Sentei e caí com tudo pra trás. A cadeira estava quebrada e se não fosse a areia eu também teria ficado quebrado. O copo de cerveja virou em minha cara e a mulher ao lado não conseguiu segurar a risada, se bem que visivelmente o tentasse, bem educada que era.
Levantei-me, rindo também, mas por dentro furioso, ajuntei tudo e voltei à lanchonete:
- Minha amiga, a outra cerveja tem que ser por conta da casa. Sua cadeira me deu prejuízo e me fez passar vexame.
- Puxa vida, o senhor me desculpe…Pode pegar outra cerveja no isopor, e a cadeira eu vou lhe dar a minha. Fico com o banquinho.
Aceitei o oferecimento. Afinal de contas ela mal tinha oportunidade de sentar-se em vista de todo o movimento do dia.
Abri a cadeira ao lado da mulher que rira de mim, examinei-a com todo o cuidado e garanti à minha vizinha que daquela vez não cairia.
- O senhor me desculpe ter rido, mas é que foi mesmo engraçado o jeito como o senhor caiu, com a garrafa e o copo nas mãos.
- Tudo bem. Se tivesse acontecido com a senhora, eu também teria rido.
- Pode dispensar o senhora…
- Se você dispensar o senhor…Qual é seu nome?
- Isa. E você, como se chama?
- Fernando.
- Acho tão bonito esse nome. Quando tiver um filho quero que se chame Fernando, se for menina vai ser Fernanda.
- Nem ficaria bem uma menina chamada Fernando…
Ela riu e novamente achei gostosa sua risada. Sonora, bem educada, bem modulada. Por falar em modulada, era também bem modelada, mas um tanto quanto amadurecida para falar em filhos no futuro.
Depois de alguns minutos de conversa cheguei à conclusão de que estava lidando com uma mulher de seus quarenta e poucos anos que acreditava, piamente, que passava por ter vinte e cinco. Presa fácil. Vaidade à flor da pele.
Encaminhei o assunto para algumas reminiscências e volta e meia lhe dizia “Sei que isso não é do seu tempo. Talvez seus pais ainda estivessem namorando…”, e ela me respondia, feliz da vida, que não era tão novinha como eu pensava.
Fixei meus olhos no dela e espantado, perguntei:
- Vai me dizer que você tem mais de vinte e cinco, vinte e sete anos !!?
Ela preferiu responder com uma pergunta:
- Você não está com vontade de nadar um pouco?
- Sabe que estou? Você gosta de nadar no mar?
- Estou começando a aprender. Sempre gostei mais de nadar em piscinas.

Nós dois com água pelo pescoço, ela fingindo que não sabia nadar e eu fingindo que sabia ensinar. Pega daqui, pega dali, segura pra não se afogar, fomos, aos pouquinhos, indo cada vez mais para o fundo. De repente mergulhei e ouvi o gritinho de susto dela, tipo faniquito exagerado, enquanto examinava todo o corpo da coroa dentro d´água. Gostosona. Peguei um dos pés dela, dei uma mordida no calcanhar e voltei à superfície:
- Que maldade, Fê..Sabe que eu não sei nadar e me dá um susto desses…
Então eu já era Fê…Mergulhei de novo e dei uma mordida na batata da perna, superfície bem mais macia. Aí ela esperneou de vez e mergulhou também. Mergulhou muito bem para quem não sabia nadar. Nadei por cima dela, virei seu corpo em direção ao meu e dei um beijo em sua boca. Beijo correspondido e demorado. Depois do beijo o resto correu fácil. Levamos mais de hora para voltar à barraca do banco.
Quando nos aproximávamos da barraca ela sorriu feliz, olhando para alguém que estava esparramado em uma das cadeiras, com uma barriga imensa:
- Ôi, amor!! Que bom que você veio logo de São Paulo!! Você já conhece o Fernando? Fernando, esse é meu marido. Meu bem, nós estávamos…
- Trepando no mar.
- Que isso, amor? Ele só estava me…
- Você reparou, minha querida, que estou falando baixo, mantendo a classe pra não dar escândalo? Moço, sente-se aqui, por favor.
Sentei-me ao lado do homem, na cadeira que era dela, e o camarada segurou meu braço.
- Meu chapa, você não tem culpa alguma e não tenho que ficar bravo contigo. Só quero lhe contar minha história de chifrudo, mas de chifrudo vingativo. Essa vagabunda, que você acabou de pegar dentro d´água, durante muitos e muitos anos fez com que eu acreditasse que me amava, que me era fiel, que só pensava em mim e em nossa felicidade. Por ela eu lutei, lutei muito, fiz milhares de horas extras no banco, fui promovido diversas vezes e acumulei um bom patrimônio. O sonho dela era uma certa casa em São Paulo. Uma casa enorme, linda mesmo, e em um dos bairros mais caros de São Paulo. Para comprá-la eu teria que vender todos os imóveis que comprei, e para mantê-la seria um sacrifício, apesar da boa aposentadoria que tenho. Graças à tal casa, por causa de ela tanto desejá-la, foi fácil fazê-la assinar a documentação de todos os imóveis e vendê-los. Ela acreditava piamente que eu faria a loucura de comprar a tal mansão. E enquanto esperava que o burro de carga aqui comprasse a mansão, ia dando pra qualquer um que fingisse acreditar que ela ainda é uma garotinha. Fiz testes de DNA nas duas filhas que acreditava que fossem minhas e deu negativo. Não sou pai de nenhuma das duas. Criei duas moças, com todo o carinho e conforto, e não são minhas.- olhando para ela: Não é, vagabunda? Naquele tempo, quando as meninas nasceram, ninguém podia imaginar que um dia haveria um teste tão perfeito de paternidade e ela me traía tranqüilamente. Bem, vamos chegar logo à minha vingança: hoje de manhã acabei de vender o último dos imóveis, enviei o dinheiro para uma conta que tenho no exterior, onde está também todo o dinheiro das vendas dos outros imóveis, e dentro de poucas horas estarei embarcando para um certo lugar do mundo, de onde nunca mais pretendo voltar. E essa puta que o senhor acabou de comer no mar, vai, literalmente, ficar a ver navios. Se ela tentar, ao menos tentar, conseguir algum trocado meu, seja o mínimo dos mínimos, tenho duas coisinhas preparadas para ela: investigação bem feita, com fotos e documentos que o senhor nem pode imaginar e, de reserva, uma pessoa encarregada de dar cabo dela se eu der o sinal. Um cara que mata por qualquer dinheiro e é doido pra ter “encomendas”. Meu caro, obrigado por sua atenção. Agora tenho que ir andando. Preciso pegar as malas, que já estão prontas e esperando por mim na portaria do prédio.
O barrigudo levantou-se, deu-me a mão e a apertou com força:
- Meu caro, se quiser ficar com esse lixo, pode levar. É toda sua. Mas tem uma coisinha: ela só tem na vida esse biquíni que está usando. O apartamento em que ela morava, onde também me colocou um monte de chifres, está absolutamente vazio. Dei tudo que estava lá dentro para uma instituição de caridade de São Paulo, com o trato de que viessem buscar tudo hoje de manhã, enquanto ela curtia a praia. E o mar…
Ela se levantou furiosa e pronta para um escândalo. Ele só fechou a mão direita e levantou um pouco o braço:
- Esqueceu da minha força, vagabunda? Se começar a te bater aqui, não paro mais.
Ela engoliu em seco e eu saí andando em direção ao mar.
Alguns minutos depois ela estava ao meu lado.
- Ele pensa que as coisas vão ficar assim. Pensa que pode me tratar como uma vagabunda qualquer. Está muito enganado. Eu sei que tenho meus direitos.Você conhece algum bom advogado?
- Muitos.
- Me indica um?
- Claro, mas tem um precinho…
- Qual é o preço? Você não viu que fiquei sem nada? Pelo menos por enquanto…
- Vamos partir para mais uma. Mas desta vez quero você nuazinha dentro d´água.
Mais do que depressa, já com água poelo pescoço ela se livrou das duas pecinhas e pediu que eu segurasse.
Segurei as peças e sai andando em direção à barraca.
- Ei, seu cretino, volte aqui!! Eu estou pelada, desgraçado !!
Até chegar á minha moto continuei ouvindo os gritos dela, mas não voltei. Deixei-a pelada no mar. O barrigudo chifrudo era um cara legal, não merecia o que ela fez com ele.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 14/06/2007
Reeditado em 20/06/2007
Código do texto: T526986
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