A valia dos “Asnos ”

A valia dos “Asnos ”

O asno como todo e qualquer animal merece que o homem o trate com o respeito que merece qualquer ser que faz parte da divina criação. Todos eles têm uma função a desempenhar neste planeta onde nasceram. Apesar de ser utilizado pelo homem em serviços rudes e em difíceis condições isso não quer dizer que seja de menor serventia que qualquer outro.

A estória que vai ser contada passou-se há séculos num antigo reino onde os asnos eram utilizados nos mais diversos serviços pelos camponeses e população que tinha necessidade de transportar pesadas cargas por serros e montes. Um dia o Rei e senhor daquelas terras quis ir à pesca pois havia muito tempo que não via o mar e já estava com saudades de o ver e sentir o cheiro da maresia.

Mandou preparar os apetrechos de pesca e chamou o ministro que respondia pelo estado do tempo para saber se o tempo estava bom e seguro naqueles dias. O ministro consultou os seus colaboradores e garantiu ao Rei que o tempo estava em boas condições e que naquela semana sua alteza podia ir à pesca, pois não haveria problemas com o tempo.

Na manhã do dia seguinte o Rei saiu com o pessoal e equipamento necessário para a pesca mas a meio caminho encontrou um camponês que ia, em sentido contrário, montado no seu burro. Depois de ter parado e desmontado cumprimentou o Rei dizendo: - Sua majestade desculpe-me mas queria informá-lo de que o tempo vai mudar e que vem aí uma tempestade. É melhor regressar ao palácio pois vai fazer uma grande ventania e vai chover muito.

O Rei ficou preocupado com a informação do camponês mas não quis dar parte de fraco respondendo:- Bom homem eu tenho um ministro que sabe de meteorologia, a quem pago bem pelos seus serviços; ele me garantiu precisamente o contrário. Obrigado pela informação mas vamos continuar a nossa viagem……… Assim pensou e determinou para que se seguisse em frente.

Entretanto começou a fazer um vento forte e nuvens negras amontoaram-se escurecendo o céu e pouco depois começou a chover torrencialmente. Como o Rei e a comitiva não se tinham preparado para aquela eventualidade tiveram que parar e esperar que passasse a borrasca. Com o temporal ficaram todos encharcados. O Rei e muitos dos súbditos apanharam resfriados e foram forçados a regressar ao palácio adoentados. O Rei decidiu adiar a pescaria para outra altura em que o tempo estivesse mais estável.

Entretanto. O Rei ficou furioso com o insucesso daquela saída. Muitos convidados e amigos tinham adoecido por causa do resfriado e constipações. Passados dois dias mandou chamar o ministro e depois de lhe dar um valente raspanete informou-o que estava despedido. Era um desprestígio para a corte que um simples camponês previsse a mudança do tempo enquanto que o reino tinha de pagar importante soma de dinheiro por um ministro que fizera uma previsão do tempo tão desastrosa.

Passados uns dias o Rei convocou o camponês e disse-lhe que tinha resolvido admiti-lo no cargo de meteorologista do reino pois estava certo que era mais competente que o ministro que acabara de despedir. O camponês com a sua humildade habitual e com toda a sinceridade ( não era dado à política…), informou o Rei que não sabia nada do que se passava no ar e que não se sentia em condições de exercer o cargo, dizendo :“ Sua alteza meu Rei, eu não entendo nada do Tempo só sei que quando o meu burro fica com as orelhas descaídas, significa que vai chover e ele nunca falhou …" Ai sim…!!!...?. Respondeu o Rei; pois já resolvi:- O burro desempenhou melhor o cargo que o ministro, que acabei de despedir, por isso a partir de hoje o teu burro fica nomeado para desempenhar tal função.Tu como seu dono terás de tratá-lo para que ele continue a desempenhar bem o seu trabalho. O pagamento das tuas despesas e do burro ficarão por conta do reino.

Assim a partir daquele acontecimento começou a ser um costume na corte daquele Reino nomear-se dentre os burros o ”Asno” com melhor aptidão para melhor prever o Tempo. Ao longo dos séculos tem acontecido que estes animais têm desempenhado diversas funções em muitas áreas, que nem sempre os “homens” de maior inteligência têm conseguido resolver com soluções mais adequadas e sensatas.

Esta simples estória fez-me recordar um saudoso poeta repentista que, apesar de sua humilde condição e habilitações literárias, foi um poeta popular Algarvio que nos deixou uma extensa e rica obra poética. Esta é uma das inúmeras quadras que ele produziu.

QUADRA 14-12-2012

Há tantos burros mandando

Em homens de inteligência

Que ás vezes fico pensando

Que a burrice é uma ciência.

Gualberto Marques
Enviado por Gualberto Marques em 15/06/2015
Reeditado em 26/06/2015
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