831-INCÊNDIO DO TEMPLO DE ÁRTEMIS- Histórias da Vovó Bia

A cidade estava abalada pelo incêndio na fábrica de móveis dos Mambrini e não se falava noutra coisa. (1)

Na grande sala da casa de Tio Gordo, a família reunida conversava sobre o assunto do momento. Era uma noite fria e todos estavam agasalhados e quietos, enquanto falavam sobre a tragédia

— A família é trabalhadora e eles vão se recuperar, disse Pedro, que, como marceneiro, sentia outra espécie de solidariedade, como se fosse sua própria oficina que tivesse sido queimada. .

Vovó Bia, como fazia todos os anos, passava os meses de frio na cidade, deixando a fazenda onde o vento gelado e a neblina lhe causavam incômodo. Sempre atenta aos acontecimentos e conhecedora de histórias do arco da velha, como ela dizia, lembrou outros grandes incêndios que já haviam acontecido. Parecia que se dirigia especialmente aos netos, Tonico e Arthur.

— O mais famoso incêndio da história foi o de Roma, mas o pior incêndio que já aconteceu, foi o do templo da deusa Artemis. que destruiu uma das maravilhas do mundo antigo.

— Foi maior do que este da serraria? — perguntaram Artur, os olhos bem abertos de curiosidade.

— Sim, foi uma fogueira que se viu a muitas léguas de distância. E o pior é que foi um incêndio proposital.

— Faz muito tempo? — perguntou Tonico.

— Sim, foi há mais de 2.300 anos.

— Conta pra nós, conta, Vó.

Aconchegando-se mais ainda à manta de tricô feita pela filha Carolina, ela começou:

— Era uma vez num lugar chamado Éfeso, na Grécia de antigamente. Era uma cidade com porto, muito importante, onde havia muita gente que adorava uma deusa dos bosques, da caça, protetora dos animais selvagens, conhecida como Ártemis. Quando os romanos adotaram os deuses gregos, deram o nome de Diana àquela deusa. O templo foi construído por um arquiteto da ilha de Creta, chamado Quersifrão e...

— Quer...sifrão...! Que nome engraçado, disse Arturzinho.

— Pois é. Era de mármore, cujas 127 colunas tinham quase vinte metros de altura. Dentro do templo havia lidíssimas estatuas e esculturas feitas em ouro, prata e outros materiais nobres, caros, porque eram difíceis de serem encontrados. Media 138 metros de comprimento por 70 de largura.

— Puxa vida! — exclamou Tonico.

— Era do tamanho de um quarteirão de nossa cidade. Durante muitos séculos permaneceu como sendo uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo e era visitado por pessoas de todos os países, próximos ou longínquos. Mas então apareceu um homem chamado Heróstrato que queria ser tornar famoso a qualquer preço. E a forma que ele achou de se tornar famoso foi incendiar o templo mais importante de então.

— Foi um rei?

— Não, não era nada, esse Heróstrato. Foi um incendiário louco por fama. Fez isso de maneira que, pela destruição do mais belo dos monumentos de então, seu nome seria conhecido no mundo inteiro.

— Então prenderam ele?

— Sim, as autoridades da cidade o prenderam. Em vez de se mostrar arrependido, o louco alegou que tinha orgulho do que fizera, pois assim seu nome ficaria escrito na história.

— Doido varrido! – comentou Arturzinho.

— É verdade. Foi preso e executado. E houve um decreto especial que proibia a menção de seu nome pelas gerações futuras. Quem falasse dele, era morto também.

— Ué, mas como que a senhora sabe da história, se não podia falar o nome do louco? — Tonico fez a pergunta, capciosa demais para sua idade.

— Um historiador chamado Teopompo registrou o acontecido, e assim, o incendiário louco ficou conhecido através da história.

— Era o que ele queria.

— Pois é. Tem pessoas famosas pelo bem que fazem e existem outras que ficam conhecidas pelo mal.

— E o templo acabou com o incêndio?

— Foi reconstruído por Alexandre III da Macedônia, mas sem o esplendor da primeira construção. Depois foi destruído por diversos terremotos e saque de inimigos. Hoje somente existe no local uma coluna solitária.

— Mas e...? — começou Arturzinho, que foi chamado pela mãe:

— Anda, anda, tá na hora de ir prá cama.

Todos se levantaram e foram cada qual para seu quarto, dizendo, uns para os outros:

— Bença, mãe, bença pai, bença vovó, bença Tio Gordo.

— Deus abençoe, Deus abençoe.

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(1) Ver conto “O Circo Chegou”, # 23 da Série Milistórias

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ANTONIO ROQUE GOBBO

Conto # 831 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS

MIISÉRIE: Histórias da Vovó Bia.

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 23/06/2015
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