Ao Primeiro Olhar

Tenho uma historia para contar, e gostaria que você apenas lesse sem procurar entender o motivo dos acontecimentos aqui relatados, pois o que será revelado em poucas linhas aconteceu comigo no ano de 1937.
Eram dias de glórias, e meu corpo aos 17 anos tinha uma vitalidade que hoje apenas me orgulha. Lembro que naquele inverno solitário, eu estava com meus pais na fazenda, onde sempre passávamos a estação das chuvas, e onde todos os anos eu e meus irmãos brincávamos com alegria e eterna inocência.
Naquela época realmente existia inocência e a infância passava dos 15 anos, tudo era proibido, os namoros eram arranjados pelos pais, e não podíamos ficar na sala quando tínhamos visitas, pois crianças não podiam participar das conversas dos adultos. Num desses dias em que recebíamos o Sr. Afonso e sua família, fiquei encantado com a filha mais nova deles, loira, pele branca, e um sorriso encabulado tornando o rosto rosado. Seu nome fiquei sabendo logo em breve, era Sofia, e com um vestido longo de cor branca com florais de laranjeiras, é verdade fiquei nervoso com sua presença, o que conclui que poderia ser apenas vergonha minha, pelo fato de ser muito tímido. Foi uma tarde fantástica, não poderia esquecer aquele rosto angelical. Ela, mal olhava para mim. E eu olhava constantemente para seu lado.
Sei que parece bobagem o que relato, pois hoje não existe mais este encantamento nos jovens.
Poderia ser apenas um momento de fascínio meu, mas no final daquela tarde, eu soube o que era o amor pela primeira vez.
Quando o Sr. Afonso foi olhar o estábulo com meu pai, fiquei mais perto de Sofia, e foi ai que escutei sua voz, suave e doce, ao perguntar sobre sua idade, ela me respondeu que já tinha a idade das debutantes, o que me deixou muito feliz, e despertando em mim um desejo louco de beijá-la. Tinha que ser minha aquela doce jovem, pensei naquele momento, e assim cresceu em mim uma força carregada de grandiosa coragem fazendo meu rosto arder e meu coração acelerar, ao planejar pedir a mão dela ao seu pai ainda naquele fim de tarde crepuscular. Dirigi-me aos estábulos a procura do pai de Sofia. Ele conversava com meu pai tão compenetrado que não viram me se aproximando. Chegando perto dos dois, eu falo: Licença, poderia ter uma palavra? Os dois olham surpresos ao ouvirem aquelas palavras tímidas e falhas, e com uma interrogação do meu pai sobre o que eu desejava, respondi que não era com ele, mas sim com o Sr. Afonso, o que os deixou realmente curiosos, meu pai então disse que tudo bem, mas que eu não falasse nada que o perturbasse pois não queria fazer uma desfeita com seu amigo. Olhei para o meu ouvinte e num gaguejado rápido e desajeitado disse finalmente: Senhor Afonso, o senhor me dar a mão de sua filha Sofia? Um silêncio, curto, mas total, tomou conta daquele lugar frio e úmido, o qual foi interrompido por uma risada longa e gostosa dos dois. O Sr. Afonso olhou-me e disse: Meu jovem, vejo que você ficou encantado pela baleza de Sofia, e vejo que você é bem corajoso, sabe, estávamos aqui eu e seu pai conversando sobre nossa amizade de muitos anos, e desde que Sofia nasceu que eu brinco com seu pai sobre um dia fazer o seu casamento com ela, e já que você tomou a nossa frente, só posso dizer que sim, mas antes você terá que completar seus estudos e ela também.
Eles se foram, e eu fiquei sonhando com o dia em que casaria com Sofia.


Evandro Saldanha
16 de Junho de 2007