"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance Capítulo 4

Wilson teve vontade de dar umas porradas no companheiro, mas Orlando era bem mais forte do que ele. Calou-se.
- Olha, moleque, amanhã eu vou fazer os dezoitão e não quero mais andar com pivetinho. Vá rodando e passe a mão na bunda de sua mãe por mim.
Aí foi demais. Wilson fingiu que ia, voltou-se de repente e meteu a perna entre as pernas de Orlando, que caiu rolando de dor.
Depois disso sumiu. Batendo recordes de velocidade a pé.

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- Wilsinho, meu filhinho querido, nós dois, juntos, vamos procurar o tal coronel, mas para que ele não te encontre primeiro, estou com algumas idéias. A primeira é pintar teus cabelos de um louro bem clarinho. A outra é te comprar uns óculos escuros bem bacanas, que você não tirará da cara de jeito nenhum. Pena que você ainda não tenha barba…
- Com dezesseis anos…
- Mas já está bem mais gordo do que no dia da surra. Isso ajuda a ficar um pouco diferente.
- Tenho também aquelas botonas de salto altão que você me comprou no rodeio de Barretos.
- Isso aí, filho. Quero você bem disfarçado, bem diferente daquele dia, pra tudo dar certo.

Durante vários dias, em vão, Eliane e Wilson passearam por toda a cidade de Santos. Ora a pé, ora de carro, às vezes de ônibus ou de moto, e nada de avistarem o coronel justiceiro. Nada de avistarem a basta cabeleira branca no Gonzaga, no Marapé, na Ponta da Praia, na praia, no José Menino, Aparecida, e nem mesmo na vizinha São Vicente.
- Putz, mãe!! Nem no quartel a gente vê o porra do velho maldito.
Cansado da procura, mas longe de pensar em desistir, Wilson viu-o um dia de relance, passando de carro pela avenida Conselheiro Nébias.
- É ele, mãe!! É ele!! É o filho da puta do coronel, mãe! Naquele carro ali, olhe depressa. Vamos anotar a placa, mãe. Depressa, depressa, ele tá virando a esquina, mãe...
Eliane anotou a placa e os dois sorriram, felizes, um para o outro. Se o carro fosse mesmo do coronel, se estivesse registrado em nome dele, ele já estava praticamente encontrado. Seria apenas uma questão de horas.
Eliane deixara o carro em casa, por isso pegou um táxi e mandou que seguisse para o centro da cidade. Gilberto, seu amigo e dono de uma agência de carros, localizaria o endereço desejado em pouquíssimo tempo. Bastava fornecer-lhe as letras e os números da placa.
- E o que ganho com isso, Eliane?
- Ganha o que cobrar. Não me venha com safadezas, com esse olhar de malandro, que eu não lhe dou essas confianças, seu tarado.
Gilberto riu com gosto e afirmou que nada cobraria de sua amiga mais bonita.
Em meia hora Eliana tinha em mãos o endereço do proprietário do carro. Faltava apenas confirmar se pertencia mesmo ao coronel de cabelos brancos e mãos de pedra. Tomara que fosse.
O endereço era de uma casa antiga, alta, enorme, circundada por um terreno imenso e pintada de cor-de-rosa com enfeites brancos no alto e uma bela escadaria à frente.
- Tem cara de casa de coronel, não tem, Wilsinho?
- Ô, se tem, mãe…Nunca vi uma casa com tanta cara de coronelice antes. Você não vai tocar e perguntar por ele; não é?
- Pensa que sou louca, menino? Existem outras maneiras de se ficar sabendo o que se deseja. Maneiras indiretas e muito eficientes. Venha comigo e aprenda alguma coisa de útil nessa vida.
Andando devagar e muito sensualmente, Eliane aproximou-se da banca de jornais que havia na esquina e, caprichando um de seus lindos sorrisos, que lhe provocavam covinhas de ambos os lados do rosto, perguntou delicadamente ao jornaleiro:
- Mocinho, por favor, saberia me informar se o padre Aquino ainda mora naquela casa linda, aquela grandona, cor-de-rosa, de esquina?
Ao ouvir ser chamado de mocinho, o jornaleiro sessentão foi todo simpatia:
- Não, minha querida. Nunca ouvi falar em padre Aquino nenhum. E olha que passei quase toda minha vida nesse pedaço. Se é aquela ali, a maior da rua, quem mora nela é o coronel Beluzzi, meu amigo e freguês.
- Tem certeza, mocinho? Engraçado…o padre Aquino me deu o endereço com tantos detalhes..Qual é mesmo o nome desta rua?
O jornaleiro disse o nome da rua, Eliane riu e, totalmente sem graça, confessou sua burrice. Errara totalmente de rua. Que boba que era…
- Coronel Beluzzi…Beluzzi…Esse nome não me é estranho…Não é aquele que tem vários filhos homens, todos grandões e fortes?
- Este que a senhora está falando deve ser outro. Esse coronel daqui, o meu amigo e freguês, só tem duas filhas moças. Uma é médica e a outra advogada. Minhas freguesas também.
- Deve ser confusão minha. O coronel que estou falando parece que mudou pra São Paulo. Agora estou me lembrando…o nome dele era Berazzi. Esses nomes italianos às vezes me confundem toda. Tchau, muito obrigado pela atenção. Você é um amorzinho de jornaleiro. Uma simpatia mesmo.
- Você também, gatinha. Apareça sempre. Sempre que se perder por aí.
Eliane, que fizera Wilson postar-se ao lado da banca para não ser visto pelo jornaleiro, empurrou suavemente o filho pelos ombros.
- Viu, menino? Viu como se tira informações sem chamar muito a atenção? Tudo assim, de leve, sem demonstrar muito interesse, sem demonstrar que se quer muito saber alguma coisa. Agora já sabemos que ele tem duas filhas, que mora ali mesmo, e que se chama mesmo Beluzzi. Só falta a gente pegar o coronel de jeito. O que é que você achou daquela escada da casa dele?
- Bonita, alta, de pedra. Ótima para um acidente fatal, não é, mãe?
- Eta menino inteligente ! Puxou a mãe em quase tudo. Quem será que vai quebrar o pescocinho primeiro: a médica, a advogada ou o bondoso coronel?
- Pra começar, a médica. De advogado a gente precisa sempre lá em casa.
Os dois riram um bocado e foram para casa.
- Menino exagerado…Nós nunca fomos presos. E, se Deus quiser, nunca seremos.
= Continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 17/06/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T529938
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