"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance Capítulo 5

"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance Capítulo 5

Eliane entrou em seu apartamento ainda a tempo de atender o telefone, que tocava desde que ela e o filho saíam do elevador. Felizmente não perdera aquela chamada. Era de seu muito querido amigo Romero, que estava ligando para matar as saudades e contar as últimas melhores piadas que ouvira. Ao ouvir-lhe a voz, Eliane sentou-se em sua poltrona preferida e passou a despir-se lentamente, sem importar-se com a presença do filho, deitado no sofá à sua frente. Ela sabia que a conversa seria demorada, que riria muito, e que tão cedo não sairia daquele aconchego. Adorava os telefonemas do amigo paulistano. Aquele safado era excepcional contando casos, piadas, inventando gozações e brincadeiras a respeito de todo e qualquer assunto. Usando uma expressão corriqueira em sua própria família, Eliane “mijava de rir” com os telefonemas do comediante amador. Dona de natural bom humor, incapaz de levar a vida a sério, possuindo um senso crítico apuradíssimo, Eliane era a ouvinte ideal, a ouvinte dos sonhos de um bom contador de piadas e autor de grandes tiradas. Suas gargalhadas cristalinas eram as palmas que as piadas de Romero mereciam, não apenas pelo conteúdo, mas também pela maneira inteligente e bem representadas com que as contava. Romero era um artista nato desfiando anedotas e casos verídicos engraçados. Tinha talento para imitações, noção de ritmo e de pausas necessárias, de entonação de voz, enfim, de todos os recursos de um bom narrador de anedotas. Uma piada qualquer, até meio boba ou um tanto quanto infantil, ficava excelente quando contada por ele. Digna mesmo de muitas risadas. Muitas pessoas chegavam até ele, avisando que não “levava jeito pra contar piadas” mas que iria contar-lhe uma que ouvira para que ele depois a recontasse “com aquele seu jeito”. Romero agradecia a homenagem a seu talento, e à possível nova contribuição ao seu acervo, e algum tempo depois a própria pessoa ria muito com a piada tão bem recontada que nem parecia a mesma.
Eliane relembrava, com saudades, das muitas viagens que ela e Romero haviam feito juntos, a trabalho, por uma grande extensão do interior de São Paulo e por boa parte do Brasil. Era ele, com suas piadas sempre impagáveis, quem fazia com que tivessem que parar o carro para que ela e as colegas corressem para os banheiros de postos de gasolina antes que urinassem no banco do carro de tanto que riam. Impagável, incansável, grande improvisador, era disputado como companhia pelos ocupantes dos outros carros quando viajavam em caravana, mas ele não se desgrudava de Eliane. Ficava sempre no carro em que ela estivesse.
Em uma das muitas vezes em que foram trabalhar em Fernandópolis, Romero dirigia o carro de Eliane e Plínio, um outro colega, ia no banco ao lado e Eliane e Márcia no banco de trás. Todo mundo rindo muito, achando graça em tudo que diziam, mexendo uns com os outros, enfim divertindo-se bastante. Plínio,que muito se orgulhava de seu ilustre sobrenome, segundo ele, de família nobre e antiga da Itália, mas radicada no Brasil havia muitas gerações. A cada cidade pelas quais passavam na estrada, ele dizia:
- Meu tio, irmão de meu pai, é delegado nesta cidade.
Alguns quilômetros adiante, outra informação de Plínio:
- Outro tio meu, que é irmão de minha mãe, é juiz de direito nesta cidade.
Várias cidades vários parentes de Plínio depois, pararam o carro em um restaurante de beira-de-estrada e, antes que abrissem uma das portas, um pangaré velhíssimo aproximou-se da porta do motorista e quase colocou a cabeçorra dentro do veículo. Romero olhou fixamente para o animal, fez um trejeito com o rosto, cara de quem escutava o animal e, virando-se para o Plínio, informou:
- Plínio, seu tio aqui, doutor Pangaré, prefeito desta cidade, veio convidá-lo para jantar na casa dele. Disse que a gente pode ir com você. Aceitamos o convite?
Por coincidência, à medida em que Romero dizia a brincadeira, o cavalo passou a balançar a cabeça pra cima e pra baixo como se estivesse incentivando-os a aceitarem o convite inventado por Romero.
As moças explodiram em gargalhadas incontroláveis e a muito custo conseguiram entrar no restaurante e chegar ao sanitário sem parecerem uma dupla de malucas.
Durante todo o resto da viagem alguém se lembrava do “parente pangaré” do Plínio e a risadaria recomeçava. Só Plínio não gostou muito da brincadeira. Era muito cioso da importância de sua imensa “famiglia”.
- Romero, estava aqui me lembrando daquela que você aprontou com o Plìnio. Até hoje choro de rir quando me lembro do Doutor Pangaré…
- Sabe que estive de novo naquela cidade, Eliane, e tive notícias do doutor Pangaré? Ele ficou tão chateado com o Plínio que até o deserdou. Comeu sozinho toda a alfafa antes de morrer.
- Palhaço…E aí, tem muitas piadas novas pra me contar?
- Tenho, como sempre. Um tremendo estoque, mas você está com tempo pra jogar conversa fora. Tenho muitas e boas pra despejar nessas orelhinhas lindas. Mas agora só vou contar as quatro ou cinco melhores.
- Pra você eu sempre tenho tempo de sobra, meu querido. Mas você me espera acabar de tirar a roupa? Tenho que soltar o fone um pouquinho…
- Claro que espero, mas me diga, nós vamos colocar as conversas em dia ou fazer amor por telefone?
- As duas coisas, pode ser? É que Santos está um forno, menino…Você conta suas piadas e fica imaginando sua amiga peladinha, deitadinha na poltrona e rindo muito. É quase tão bom quanto sexo real, você verá.
- Eli, vamos fazer diferente? São Paulo hoje tá uma desgraça. A poluição está tão brava que de manhã eu abri a janela, respirei fundo e depois soltei um pum meio violento, muito dolorido. Meu quarto ficou às escuras de tanta fumaça que soltei por trás, só por causa daquela respirada. Então eu vou desligar agora, pegar meu carro e fugir pra sua casa. Encha aquela sua banheirona de água geladinha e espere por mim. Vou te fazer rir tanto que você vai fazer xixi no teto do banheiro. Hoje eu tô inspirado pras duas coisas, sexo e humor. Joga aquele teu menino pela janela pra gente poder curtir sossegado.
Eliane não precisou pensar muito pra concordar com a vinda do amigo. Ela sabia que poucas coisas oxigenavam tanto seu cérebro quanto uma boa sessão de risadas. Além disso, Romero possuía um tipo de físico que a agradava imensamente. Alto, magro sem exagero, forte, e com uma tremenda disposição para satisfazer sexualmente a mais exigente das fêmeas, o que era seu próprio caso. Fora ele um colega dos tempos em que trabalhara na primeira das três grandes Editoras pelas quais passara como vendedora profissional, usando um nome diferente em cada uma delas. Na primeira usara seu nome de batismo e nada fizera de comprometedor. Naquela época ainda estava aprendendo e analisando as possibilidades futuras.
- Venha, meu querido. Enquanto você vem a banheira vai enchendo e o Wilsinho vai caindo pela janela.
Wilson levantou-se do sofá, furioso, e saiu batendo a porta com força, depois de dizer à mãe:
- Sacanagem…Vocês podiam trepar sossegados no seu quarto e eu podia ficar no meu…sacanagem…
= Continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 18/06/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T531282
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