"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance= Capítulo 6

Alguns dias depois o coronel Beluzzi recebeu em sua casa a visita de uma linda vendedora de enciclopédias. Aceitara a visita dela à sua casa sem a menor intenção de adquirir o que ela vendia. Recebera a visita apenas porque a aquela vendedora era bonita demais, além de extremamente simpática e comunicativa. Valeria a pena, ele tinha certeza, agüentar a ladainha profissional pela oportunidade de admirar de perto aquele belíssimo par de pernas acomodado à sua frente no sofá de sua sala. As filhas e a esposa não estariam em casa àquela hora do início da noite, pois as moças chegariam bem mais tarde do trabalho e a esposa jamais perdia as reuniões do centro espírita nas quarta-feiras. Enquanto a mulher tentava receber espíritos, ele receberia aquela beldade em casa.
Na casa do coronel Eliane mostrou o quanto sabia ser competente e profissional quando queria. Fez para ele uma de suas mais belas e eficientes demonstrações de seu material de trabalho, manuseou com extrema destreza os grandes catálogos, conversou com desenvoltura, conhecimento de causa, e, usando um ótimo português, quase “fechou” a venda. Só não o fez porquê não forçou um pouquinho mais. Sua eficiência, sua proximidade, seu perfume gostoso e sensual, aliados ao seu decote generoso, que deixava ver um bom pedaço de seus seios lindamente redondos e fartos sem exagero, deixaram o coronel totalmente à mercê de seus encantos.
- Moça, gostei demais de sua enciclopédia. Pena que minha meninas já estão formadas e que eu ainda não tenha netos em idade escolar. Aliás, não tenho netos em idade alguma, por enquanto. Durante muito tempo minhas filhas usaram a Enciclopédia Britânica, em inglês, e não precisam mesmo de outra. Mas, se você me ligar amanhã ou depois, terei prazer em lhe fornecer alguns nomes de colegas que certamente comprarão essa beleza em suas mãos. Todos gente com filhos na escola, na idade certa pra isso. Isso ajuda em seu trabalho?
- O senhor nem imagina o quanto, coronel. Seria, ou melhor, é mesmo muita bondade sua. As boas indicações são a base principal de meu trabalho. Melhor ainda quando são fornecidas por gente como o senhor, um oficial graduado, gente de respeito e bom conceito na sociedade. Posso ligar amanhã ou o senhor acha que será muito cedo?
- Ligue, moça. Ligue quando quiser e lhe darei todos os nomes que conseguir me lembrar hoje à noite. Nomes e telefones dos colegas e amigos, que, aposto, terão muito prazer em conhecer uma moça tão bonita e simpática quanto você. E trabalhadora, ainda por cima…
- Tenho que ser trabalhadora, coronel. Tenho um filho pra criar e sou sozinha no mundo. Filho adolescente…o senhor já viu; né? Só me dá despesas por enquanto. Mas não há de ser nada. Ainda verei meu garotão formado e me dando uma boa ajuda em casa, se Deus quiser.
- Você já tem filho adolescente, moça!? Quem diria! Com essa carinha de colegial, de menina ainda…
- Quem me dera, coronel. Já estou mais pra coroa do que pra mocinha. Quem me dera ser menina ainda…
- Coroa, você? Com uma coroa assim eu não me importaria de ser rei…Tá vendo o que sua beleza está fazendo comigo? Acabei falando bobagem. Espero sua ligação, amanhã, está bem? Ligue para o comando da corporação. É melhor do que ligar aqui pra minha casa. Anote o número em sua agenda, por favor.
Eliane anotou o número, conversaram mais um pouquinho e ela foi embora. O coronel estava fisgado. Logo estaria pagando, de alguma forma, pela surra que dera em seu pobre e nada inocente Wilsinho.

Vários dias depois Eliane ligou para o coronel. De propósito não ligara em um dos dias seguinte à visita à casa dele, conforme haviam combinado. Queria deixá-lo um tanto quanto ansioso à espera de revê-la.
- Coronel Beluzzi? Aqui e a Eliane. Que Eliane? A da enciclopédia. A vendedora de livros. Está lembrado? Bondade sua, coronel. Nem tão bonita assim. Muito menos inesquecível. Assim o senhor vai me deixar convencida, coronel. O senhor também é um homem muito bonito. Que velho que nada…Pelo telefone eu tenho até coragem de dizer que o senhor é um homem lindo com esses cabelos brancos e esses olhos azuis demais. Não, não, não é exagero não, coronel. De jeito nenhum.
Posso passar aí para pegar as indicações que o senhor me prometeu? Ou o senhor prefere passá-las por telefone? No fim do expediente? A que horas o senhor sai? Então tudo bem. Eu espero pelo senhor em frente à padaria. Conheço sim. Às seis horas em ponto. Combinado. Combinadíssimo.

Às seis e três Eliane embarcava no carro do coronel em direção a uma famosa pizzaria na Ponta da Praia. Era mais de meia-noite quando ela desceu do carro dele e entrou em sua casa. Wilson a esperava na sala e os dois se abraçaram rindo.
- E aí, mãe? O pato tá caído por você?
- Está louquinho, menino. Doido pra se deitar com a sua mamãezinha.
- E você vai topar, mãe?
- Claro, menino. Homão bonito como aquele a gente não acha todo dia.
- Brinca não, mãe. Não quero que você dê nenhuma alegria praquele puto, mãe.
- Não foi bem alegria que eu pensei em dar pra ele, mas deixa pra lá. Na cama é que começará a acontecer a minha vingança, filhote. Confie na mamãe que Deus lhe deu.

No decorrer da semana seguinte o coronel atendia pressuroso cada telefonema dado à sua repartição. De vez em quando era Eliane que ligava para um papinho rápido ou pra contar que fez mais uma venda graças às indicações dele. Ela dizia que nunca trabalhara tanto antes e que tinha muita pena de não estar conseguindo tempo para sair com ele. Só mais um pouquinho de paciência, pedia. “Só mais um pouquinho de paciência, meu lindo coronel..”
Faltava pouco, bem pouco, para ela fechar a cota de dois meses em apenas três semanas e aí, sim, poderia tirar alguns dias de férias e dedicar-se inteiramente a conhecer melhor o coronel que tanto a atraíra e a quem sabia que encantara.

Beluzzi tinha vontade de chamar Eliane e comprar um monte de enciclopédias para que ela “fechasse logo a tal bendita cota”, tendo assim mais tempo para ele, mas as tais obras eram tão caras que a maioria comprava-as em vinte e quatro meses. Ficaria estranho comprar diversas de uma vez. Estranho e dispendioso demais. Melhor mesmo era ter paciência.

Uma semana depois Eliane ligou exultante. Parecia dar pulos de alegria enquanto contava ao coronel que havia sido a campeã nacional de vendas naquele mês e que graças a isso ganhara um dinheirão. Quereria o coronel sair com ela naquela noite pra comemorar? Claro que ele queria. Era tudo que ele queria havia semanas. O coronel não desejava alguma coisa tão intensamente havia muito, muito tempo. Estaria na porta da casa dela às nove da noite em ponto.

- Entre, coronel. Entre, por favor, mas não repare. Vou ter que lhe pedir que feche os olhos até que eu chegue ao meu quarto. Atrasei-me um pouco e estou quase sem roupa. Acabei de sair do banho.
Sorrindo, o coronel fingiu fechar os olhos e viu que ela estava quase nua, coberta apenas por uma camisola transparente e uma calcinha minúscula. Esperaria por ela o tempo que fosse preciso, não importava quanto. Importante é que finalmente a teria naquela noite tão ansiosamente aguardada. Ela dizia ter um filho de dezesseis anos, mas era difícil acreditar. Era uma dessas beldades deslumbrantes, aparentando, quando muito, vinte e cinco anos, se tanto, que ele via na praia e desejava cada vez mais intensamente à medida em que sua idade avançava.
Dera tudo tão certo para o coronel naquela noite que nada mais poderia dar errado: a esposa fora com as filhas para São Paulo, atendendo ao convite de uma amiga, e só voltaria na tarde do dia seguinte.
Eliane demorou-se no banho, mas o coronel viu que a espera valera a pena quando ela despontou na sala com um vestido vermelho e lindíssima da cabeça aos pés. Ele perdeu o fôlego por instantes. Por bom número de instantes.
Ela cuidara de todos os detalhes para enlouquecer de vez o “seu” coronel.
= Continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 19/06/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T532627
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